domingo, 4 de dezembro de 2016

Haverá "mimo" a mais?


Esta é uma dúvida na qual muito tempo ponderei e que ainda surge com muita frequência nos pais com quem contacto. Respondo a esta pergunta, com uma outra: do que estamos a falar quando falamos de "mimo"?
Se para nós "mimo" é permissividade, não estabelecer limites com a criança, enchê-los de gadgets, roupa, viagens, actividades... então a qualidade desse "mimo" e o seu resultado é de facto muito duvidoso. Sabemos (e os estudos comprovam) que a auto-estima da criança não é obtida pelos presentes que lhes damos. Não é isso que as fará sentirem-se reconhecidas e sentirem-se melhor acerca de elas mesmo. É fácil observar isso pela curta satisfação que isso lhes proporciona ou pelas melhores memórias que têm, não se relacionarem maioritariamente com isso. Sabemos isso da nossa própria experiência enquanto adultos.
O modo como a criança se relaciona com ela mesma, é um reflexo da maneira como nós nos relacionamos com ela. O reconhecimento da criança como ser único que é e tal como é (e não como nós imaginamos que é ou queremos que seja) é na verdade o melhor contributo para a formação da sua auto-estima enquanto criança e enquanto futuro adulto.
Se para nós "mimo" é abraçar, dar colo, acarinhar... então não é demais (desde que respeitados os limites dos pais e das crianças).
Se para nós "mimo" é estar presentes efectivamente; é darmos atenção plena quando estamos com eles; é reconhecermos a sua importância e individualidade (não por elogios repetidos, "retóricos", exagerados, mas reconhecendo a sua personalidade, os seus interesses, as suas ideias e opiniões), então é esse "mimo" que vai ajudar a fortalecer a sua auto-estima enquanto crianças e adultos.
Volto a "bater na mesma tecla": em caso de dúvida, pensem em nós enquanto adultos:
- Gosto de me sentir amada e acarinhada? Acho isso "demais"?
- Prefiro que me deêm uma mala MK ou de sentir que me escutam, que me entendem, que me ajudam?
- Prefiro ser elogiada só quando o projecto que desenvolvi foi aprovado ou prefiro ser elogiada pela minha dedicação, criatividade, coragem?
- Prefiro que a minha mulher/o meu marido me diga: preciso agora de uma hora a trabalhar com total atenção, mas depois ter um jantar em que conversamos com total atenção um no outro ou prefiro estar ao lado dela/dele toda a tarde e sentir que não me ouve ou presta atenção? 
Em suma, na minha opinião não há "mimo" a mais. O que habitualmente chamamos de crianças "mimadas" não são crianças que têm carinho e atenção a mais. São crianças que provavelmente não conseguem expressar as suas emoções de outra forma e crianças que não sabem respeitar os limites dos outros. E aí, chegamos sim, à questão principal: de que modo posso respeitar os limites dos outros e comunicar eficazmente os meus próprios limites? (a não perder, no próximo post ;)

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Quem é o teu mestre?


"I am the master of my fate, 
 I am the captain of my soul." 
(Nelson Mandela)

Todos nós temos referências, nas mais diversas áreas. Pessoas que admiramos: pela sua coragem, determinação, conhecimento, sabedoria, atitude, acção... Crescemos assim, a olhar os adultos que conhecemos, a reconhecermos o seu comportamento, a identificarmo-nos (ou não) com eles, a "imitarmos" mesmo que inconscientemente o seu comportamento. As crianças fazem-no naturalmente, admirando o pai e a mãe quando são mais pequenos, querendo ser como o(a) seu(sua) professor(a), escolhendo mais tarde outros ídolos como os cantores ou actores do momento ou até uma colega da escola. A admiração e reconhecimento é uma coisa. A idolatração é outra. E enquanto pais temos normalmente a clareza de identificar o exagero e de alguma maneira orientar os nossos filhos para esse limite.

Mas hoje não vos quero falar de crianças. Quero-vos falar de adultos.

Vivemos num mundo acelerado. Com grande parte das pessoas desmotivadas, esgotadas, frustradas. À procura de uma felicidade que não se encontra nos bens materiais, à procura de um bem estar sem preocupações, à procura de tempo, à procura de amor. Procuramos soluções. Rápidas se possível. Terapêuticas. Nem sempre curativas.

Estamos na era do conhecimento. Do acesso rápido ao mesmo. Tenho a sensação de que nunca se investigou tanto, mas também nunca se falou tanto "pela rama". E por vezes é difícil distinguir o trigo do joio. E quando digo isto, falo de tudo. Falo de política. Falo de orientação espiritual. Falo de ciência. Falo de terapia. Falo de nutrição. Falo de coaching. Falo de parentalidade.

Tenho a benção de conhecer pessoas extraordinárias nestas e noutras áreas. Pessoas que admiro pela sua dedicação, coerência, trabalho desenvolvido. Pessoas que considero meus "professores". Pessoas que investigaram e trabalharam em áreas que não tive oportunidade de aprofundar ainda e que por isso me interesso, pesquiso, escuto. Pessoas que admiro pelo que dizem mas ainda mais pelo que fazem. Pessoas que admiro pela sua autenticidade. Pessoas simples. Pessoas que não são "mestres" nem o querem ser.

E esta é a pergunta que te deixo para reflexão: Quem é o teu mestre?

Procuramos tanto uma solução rápida, uma orientação para a nossa confusão mental e emocional, que quase esquecemos que nós somos os nossos principais mestres. A resposta está sempre dentro de nós e não fora. 

Também na área da parentalidade. Escuta, lê, procura, inspira-te, abre os teus horizontes, questiona-te  e desafia as tuas crenças. Certamente te identificarás mais com algumas coisas do que outras, mas faz o teu filtro e acolhe o que te serve. Escuta e olha o teu filho. Escuta e olha-te a ti mesma(o). A tua intenção, a tua intuição, a tua sabedoria. Tu és o verdadeiro mestre.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

De pantufas


"Sabes mãe, ainda sou tão pequena!
Gosto de imaginar e de sonhar...
Gosto de saltar e de brincar. Gosto de aprender e investigar. Gosto de perguntar e de escutar. 
Quero dançar! Rodopiar!Aprender com o cérebro mas também com as mãos, com as pernas, até com os pés! 
Querem "prender-me" à cadeira, aos livros, aos números... e eu só quero voar!"

Na escola de Jardim de Infância e na escola de 1ºciclo da minha filha L., os alunos calçavam umas pantufas mal chegavam à escola (ou galochas quando andassem no exterior). E este "ritual" aparentemente tão simples, sempre teve um significado muito grande para mim. Porque a minha "mente" trabalha melhor quando estou confortável! Porque a minha "mente" é mais livre e criativa quando não me sinto aprisionada! Porque se estou confortável me sinto mais calma e aumenta a minha dedicação, o focus, a criatividade, a boa disposição.

Porque nos é tão difícil "descalçar os sapatos"?
Que medos temos em questionar os hábitos?
Porque é tão importante mantermos o formalismo?

Porque nos é tão difícil ser livres? 


sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Sra. Doutora... fica sem coffee-break e não tem intervalo!


Estive num Congresso durante dois dias. Fui eu que decidi ir porque os temas me interessavam. Estive sentada numa sala durante 7 horas. Os intervenientes mudaram de hora a hora, por isso os temas foram variando. As sessões tiveram dois intervalos de manhã e dois à tarde. Cada um deles de 20 minutos e com coffee-break incluído. Ouvi com atenção alguns temas, noutros "desliguei". Vi muita gente a conversar com o parceiro do lado, outros ao telemóvel e alguns mesmo de olhos fechados (a meditar ou a dormir?). Alguns saíam a meio das sessões, outros conseguiram ficar até ao fim. "São muitas horas sentado". "Estava a ser uma seca". São adultos.

Não ouvi nenhum dos speakers ou dos presidentes de mesa a dizer: o sr. doutor ali atrás... esteve todo o congresso desatento e agitado. Está de castigo. No intervalo fica dentro da sala. Não pode sair para conversar com os outros nem para tomar o coffee-break (e já agora pode escrever 20 vezes no caderno: vou ouvir todos os intervenientes com atenção).

Pois...

A maior parte das crianças passam cerca de oito horas na escola, a maior parte delas sentados. Com temas que não escolheram, com o mesmo professor ou com vários, com aulas que chegam a ter 2 horas seguidas. Não podem pegar no telemóvel, sair a meio da aula, dormir e eventualmente falar com os parceiros do lado. Idealmente têm que estar 100% atentos e quietos. São crianças.

Sei que "faz parte" da escola...
Também "faz parte" da maior parte das escolas castigar os meninos irrequietos (Sim, os que têm energia para gastar, os que precisam de se expressar, os que têm dificuldade em estar sentados tanto tempo, os que têm dificuldade de concentração, os que gostariam de estar a aprender outra coisa... os que simplesmente têm comportamento de criança!) com uma "não ida ao recreio". Recreio esse que seria eventualmente a única oportunidade do dia para se mexerem, saltar, jogar, conversar, expressar-se.

Não consigo ser indiferente a isto. 

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Quem és tu mamã?


Na parentalidade não há perfeição. Acredito que as mães imperfeitas, mas que sabem reconhecer a imperfeição como parte do processo e da vida, conseguem melhores resultados do que mães absolutamente obcecadas na perfeição e no suposto ideal.

Viver cada momento tal qual é, aceitá-lo, reconhecê-lo e seguir em frente, é meio caminho para conseguirmos fazer melhor numa próxima oportunidade.

A sociedade exige muito de nós, mulheres - esposas, mães, amigas, profissionais, filhas. Ou será que NÓS é que temos padrões elevados que achamos que temos que cumprir e exigimos demais de nós próprias? Lemos sobre parentalidade, ouvimos, pesquisamos. Sabemos o caminho que queremos tomar (sabemos?) mas nem sempre o conseguimos.

Nas famílias que vou acompanhando, encontro muitas mães com sentimento de culpa. Porque ocupam muito tempo no trabalho, porque não conseguem cozinhar as refeições saudáveis que desejavam, porque deixam o filho passar mais tempo a ver televisão do que acham correcto, porque viajam demais, porque gritam muito, porque não sentem paciência, porque não têm dinheiro para comprar os sapatos de marca que ele quer, porque andam stressadas, porque têm sempre muito que fazer, porque fazem tudo a correr, porque não lhes conseguem dar o tempo e a atenção que desejavam, porque, porque, porque...

Vemos ao espelho uma mãe que muitas vezes não é a que existe de facto e a que os nossos filhos sentem! Por essa razão, proponho muitas vezes a estas mães: já perguntaste ao teu filho?

- Pergunta como te descreveria.
- Pergunta o que ele gosta mais de fazer contigo.
- Pergunta momentos que tenham tido e que ele gostou mais.
- Pergunta o que mais gosta em ti.
- Pergunta o que gostaria que fosse diferente.

A sinceridade natural das crianças vai fazer com que te conheças melhor. Que saibas o que é mais importante para a vossa relação. Algumas vezes descobres que o que ele mais gosta é quando o sentas ao colo e lhe dás aquele abraço, que um dos momentos mais divertidos foi aquele em que passaste uma manhã só com ele e foram comer um gelado e que o que menos gosta é quando te esqueces de lhe ir dar um beijo quando ele já está na cama. 

E sim. Às vezes o essencial é mesmo assim tão simples. 

(Ah... e claro: Quem és tu papá? Aplica-se o mesmo!)

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

És parvo ou quê?


Na minha vida de adulta, especialmente na vida profissional, aprendi que é fundamental não levarmos "a peito" o que muitas vezes nos dizem. Quando alguém me dirige uma crítica (até positiva!) está normalmente a avaliar aquilo que eu FIZ e não aquilo que eu SOU. Essa capacidade que adquirimos (mais relacionada com a inteligência emocional) ajuda-nos na interacção com o outro, na articulação social, mas também a evitar que os nossos níveis de autoestima (ou pelo menos de autoconfiança) vão "por água abaixo". 

Enquanto adultos, sentimo-nos "ofendidos" se alguém nos dirige uma crítica pessoal: és um parvo, és um estúpido, és um incompetente, um incapaz, um mentiroso, um preguiçoso.

Acontece provavelmente o mesmo quando um professor dirige essas palavras ao nosso filho ou algum colega...

Então porque nos sai tão facilmente da boca alguns destes rótulos quando discutimos com os nossos filhos? 

O que vos proponho hoje é uma reflexão:

Tu és aquilo que és e não aquilo que os outros te chamam ou pensam de ti!

E essa é uma "lição de vida" para mim fundamental que devemos passar às crianças. Devemos sempre tentar crescer e melhorar enquanto pessoas, mas não é aquilo que os outros acham de nós que nos define.

E uma proposta: Foca-te na acção e não na pessoa!

Em vez de dizer "és parvo!" experimenta dizer "fizeste uma parvoíce!" (mesmo que não seja o ideal, o impacto já é diferente)
Em vez de dizer "és um preguiçoso!", experimenta dizer "custa-te sempre levantar da cama de manhã".
Em vez de dizer "és um desastrado, só fazes porcaria", experimenta dizer "faz uma coisa de cada vez para não acontecerem estes desastres. Deixaste cair um copo, ajudas a limpar?"
Em vez de dizer "oh, ele é muito tímido!" experimenta dizer "ele gosta de conversar quando já conhece melhor as pessoas"

Parece a mesma coisa, mas não é. 

As crianças acreditam e tornam-se naquilo que lhes chamamos. "Vale mesmo a pena pensar nisto"...

"Children are apt to live up to what you believe on them" (Lady Bird Johnson)



sexta-feira, 23 de setembro de 2016

O "inferno" das manhãs - dicas para mudar a rotina de stress

O despertador toca pela segunda vez. Queremos prolongar por mais uns minutos o nosso descanso na cama, mas não dá para atrasar mais. A escola não espera, nem a reunião que temos agendada. Abrimos a janela, chamamos pelos filhos (umas 10 vezes antes de finalmente se arranjarem!) e corremos tudo a toque de caixa! Assim começa o "inferno" das manhãs mal começa a época escolar. Foi-se a calma, foram-se os planos, foi-se a conexão e a presença. O relógio não para!

É-te familiar esta sensação? Vamos tentando acordar mais cedo, respirar fundo, ser criativos, mas mal a rotina se instala, parece que volta tudo ao mesmo! Neste início de época escolar, deixo-te por isso umas dicas que podem ajudar a manhãs mais calmas e com maior conexão com os nossos filhos.

1. Primeiro tu!
Se te deitaste muito tarde, se estás exausta logo pela manhã, como pode haver boa disposição e paciência para organizar tudo de manhã? As manhãs exigem energia e criatividade da tua parte! Sugestão: dormir o máximo que consigas (e para isso não podemos querer fazer tudo durante a semana de trabalho!); acorda mais cedo que eles para te poderes arranjar e respirar fundo antes de os ajudares; envolve a/o tua/teu companheira/o se os horários o permitirem (alterna quem leva à escola ou distribui as tarefas de ajuda pelos dois); cuida de ti durante o dia (arranja um momento, nem que sejam 10 minutos, para respirar fundo!).

2. Cria conexão com as crianças!
Como te sentes se quando chegas ao teu trabalho o teu chefe está logo mal disposto e mal te diz bom dia? É difícil ficar bem disposta assim, certo? Aproveita a manhã, nem que sejam 2 minutos, para criar conexão com o(s) teu(s) filho(s). Um abraço na cama, o dar a mão até à cozinha, uma pequena conversa, um "bom dia" bem disposto (mesmo que não seja imediatamente retribuído!) é muitas vezes o suficiente para acordar mais tranquilo e começar melhor o dia.

3. Prepara as coisas no dia anterior!
As mochilas, as roupas, as merendas - tudo o que puder ser preparado no dia anterior, prepara! E envolve-os nas escolhas e na preparação.

4. Respeita a individualidade de cada criança!
Sabemos que existem crianças (e adultos!) que acordam cheios de energia e boa disposição pela manhã. E outras em que parece que começam a "funcionar" perto da hora de almoço. Algumas que começam logo a conversar e outras que preferem que não lhes digas nada. Algumas que acordam cheias de fome e outras que ficam mal dispostas só de pensar em comida de manhã. Sê flexível e criativa! Não forces muita conversa se o teu filho não quer conversar; não faz mal de vez em quando só comer no carro durante a viagem para a escola ou reforçar o lanche a meio da manhã. Simplifica.

5. Dá opções!
"Mãe, não quero vestir isto!! Não gosto destes sapatos! Não quero comer flocos!!" Dá opções de escolha! Como exemplo: dá algumas opções de roupa mas permite que ele escolha entre elas; deixa-o escolher o que quer vestir desde que leve um casaco; deixa-o escolher o que comer, desde que sejam opções que consideres saudáveis ou desde que seja ele a preparar o pequeno almoço. Acima de tudo respeita os teus limites e os deles.

6. Envolve-os!
O balanço entre a autonomia, responsabilidade e a ajuda necessária é fundamental. Conta que precisem da tua ajuda para passar a difícil rotina matinal. Mas de acordo com a idade, vai-lhes dando autonomia e responsabilidade (no toque do despertador, na preparação do pequeno almoço, etc). Queremos que cooperem, mais do que "obedeçam". Conversa e planeia em família (com as crianças também!) como podem organizar melhor as manhãs, de modo a ser mais fácil para todos.

7. Uma coisa de cada vez!
"Põe a roupa suja no cesto, lava os dentes, calça-te e depois vem tomar o pequeno almoço. Mas não esqueças a mochila!" Ordens! Ordens! Ordens!!! Uma sequência  que entra por um ouvido e às vezes sai pelo outro, porque não só cria maior tensão e stress, como são coisas demais para decorar e fazer ao mesmo tempo. Experimenta dizer uma coisa de cada vez. Ou criar uma lista de coisas a não esquecer de manhã.  

8. Vive cada momento!
Respira fundo, tenta manter-te presente no momento. No teu banho, no abraço ao teu filho, no primeiro olhar do dia pela janela, na cor da roupa que escolhes para vestir, na música que escolhes ouvir de manhã, na condução até à escola (já agora, se tiveres hipótese de ir a pé, nem que seja parte do percurso, caminha!!!! Faz milagres ;)). Vive cada manhã com mente de principiante. Não é fácil. Mas é gratificante! 



segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Sente o que o teu coração te diz

Sim, sou confrontada muitas vezes com opiniões diferentes da minha no que respeita à parentalidade. Atitudes que me fazem querer tapar os olhos ou iniciar uma grande discussão. Fora e dentro da minha família. Fora e dentro da minha casa. Uma bofetada por impulso que faz doer o coração; palavras duras que doem mais que uma bofetada; pais a ignorar crianças a suplicar atenção; pais a pagar com brinquedos a falta de tempo e de afecto; falta de comunicação de limites entre filhos e pais.

Ninguém nasce ensinado e a grande maioria dos pais tem exactamente o mesmo objectivo: serem "bons" pais, educarem os filhos de modo a eles crescerem integrados numa sociedade e a serem felizes. Simplesmente usamos ferramentas diferentes, uns por crenças, por hábito, pelas nossas próprias histórias de infância, por pressão familiar ou social, outros tentando aplicar pedagogias, filosofias, teorias que vamos ouvindo ou lendo nos livros.

Como reagir a estas diferenças, quando elas estão dentro da nossa própria casa ou da nossa família? Respiro fundo. Pratico o não julgamento. E acima de tudo tento dar o meu testemunho. Faço o que sinto que está correcto. Acredito que vale mais do que "ensinar" qualquer teoria. Mostro alternativas e acima de tudo pratico-as. A pouco e pouco quem nos rodeia vai verificando, tal como nós, que essas alternativas também resultam.

Sei que não sou perfeita. Sei que muitas vezes também me desvio das minhas intenções. Em situações desafiantes chego a duvidar se o que estou a fazer é o mais correcto. E quando isso acontece, respiro fundo. Centro-me nas minhas intenções. Sinto o que o meu coração diz.

E é esse o "conselho" que hoje deixo. Questiona as tuas crenças, esquece a pressão familiar ou social, esquece o que ouviste e leste e sente. Sente o que o teu coração de mãe/pai te diz.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Está é (também) a família que escolhi!


Uma amiga disse-me um dia: “Sabes, quando estou a passar por momentos desafiantes com as minhas três filhas, lembro-me muitas vezes de ti. Penso que EU escolhi ter três filhos, EU escolhi esta família, já sabia que ia ser assim. Foi opção minha. Mas tu não! Tu tinhas uma filha e de repente ficaste com quatro!”.
Entendo a minha amiga. Na verdade o meu ideal era ter um “único” casamento para a vida, mas não foi assim. O meu ideal era dar à minha filha uma “única” família como eu tenho a sorte de ter, com pai e mãe juntos e enamorados, mas também não foi assim. O meu ideal era dar-lhe uma vida com maior “estabilidade” e sem tanta logística entre uma casa e outra, mas não aconteceu assim.
A vida correu de outro modo. O meu caminho foi outro. E apesar de idealmente não ser o que pretendia, a responsabilidade é minha também. Por isso sim, fui eu que escolhi.
Depois chega de novo o amor…
Simplesmente acontece e não acredito que escolhamos as pessoas que amamos! Mas ao optarmos por viver esse amor, existem escolhas todos os dias.
Nem sempre é fácil. Por vezes é mesmo duro: quando tenho saudades da rotina de mãe e filha que tínhamos há tantos anos; quando faço uma viagem de 600 km todos os fins-de-semana para que a minha filha possa estar com o pai; nos dias em que o silêncio só chega quando me deito (e, ainda assim, acordo a cada ruído durante a noite); quando o frigorífico que se encheu ontem, já se esvaziou por completo; quando lavo e estendo uma máquina de roupa todos os dias; quando tenho que decorar datas de testes, reuniões, visitas de estudo e actividades a multiplicar por quatro; quando acabam de almoçar e já perguntam o que vai ser o jantar; quando a logística para ir a qualquer lado é enorme; quando temos que gerir conflitos, ciúmes, opiniões e vontades de seis pessoas; quando há desencontros de ideias educativas entre nós; quando todos os dias me pergunto: como devo agir, tendo em conta que sou mãe de uma mas não sou mãe de três?
Concordo com a minha amiga, no sentido em que não escolhi o passado do meu marido, tal como ele não escolheu o meu. São “mochilas” que trazemos connosco, com tudo o que isso representa de bom e de desafiante. É esse passado que nos tornou no que somos hoje.
Mas o que faço com o momento presente, é escolha minha.
É uma escolha minha aprender a viver cada momento sem me agarrar demasiado aos planos.
É uma escolha minha respeitar o ser individual de cada membro desta família.
É uma escolha minha promover uma comunicação aberta, honesta e respeitadora entre todos.
É uma escolha minha continuar a respeitar o pai da minha filha e a ficar feliz quando ela vê na madrasta uma “segunda mãe”.
É uma escolha minha respeitar a ex-mulher do meu marido e toda a sua família.
É uma escolha minha encarar os momentos desafiantes como aprendizagem.
É uma escolha minha comunicar os meus limites para manter o meu equilíbrio.
É uma escolha minha ser uma mãe (e madrasta) mais presente e consciente todos os dias.
Todos os momentos desafiantes são ultrapassados por momentos altamente gratificantes desta família alargada. Não há truques e segredos para as novas famílias modernas. Só o mesmo que para as famílias “tradicionais”: muito respeito e muito muito amor.
Por isso, esta é também a família que EU escolhi. Que escolho todos os dias. E para mim é uma família perfeita na sua imperfeição.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Quando a escola começa...


Hoje, nestes dias em que o ano escolar de novo começa, podia dizer tanta coisa sobre o modo como se ensina, sobre o modo como se aprende, porque isso me toca tanto...

Hoje, resumo tudo numa frase (e repito o post de Julho), para que ela fique bem na memória durante todo o ano escolar, especialmente para quando o teu filho chegar cansado da escola, quando tiver 3 páginas de TPCs para fazer, quando o fim de semana que deveria ser para aprender em família é preenchido por horas de estudo fechado no quarto, para quando o fores inscrever em mais uma actividade (porque ele tem que ter acesso a tudo para depois escolher...), para quando ele ficar sem intervalo porque esteve muito irrequieto durante a aula, para quando ele te mostrar as notas dos testes ou do período.

Para reflectires, a ti, pai, mãe, educadora, professor:

"A infância não é uma preparação para a vida. A infância é vida!" (Prof. Ripaldi)

Deixem a criança ser criança. É quanto basta!

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Mãe: vai dar uma volta!


A ti, que és mãe: sim, vai dar uma volta! Literalmente.

Não para ir buscar os filhos à escola, não para a reunião de trabalho, não para comprar os legumes para a sopa de amanhã. Para ti. Uma volta para ti. Uma conversa com uma amiga, uma ida ao cabeleireiro, um passeio a pé, ou simplesmente um café na esplanada mais próxima.

Parece tão simples e às vezes é tão complicado, não é?  

Acredito que um dos melhores ensinamentos que posso dar aos meus filhos é o de saberem respeitar os seus próprios limites, mas também os limites dos outros. Acredito também que só conseguimos dar aquilo que temos.

E hoje precisava de espaço. De respirar. Fui dar uma volta. Sozinha. Os 20 a 30 minutos que demorei foram o suficiente para ganhar energia para o dia. 

Também tu, que és pai, vai dar uma volta!

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Time out - funciona mesmo?


Quando no teu trabalho te enganas a fazer alguma coisa, como te sentirias se a tua chefia te dissesse: vai para o teu gabinete, senta-te na tua secretária durante 20 minutos e pensa no erro que fizeste e nas consequências que isso teve. Como é que isso te faria sentir? Ajudar-te-ia a ultrapassar a situação procurando alternativas ou intensificaria o teu sentimento de vergonha, medo, incapacidade, tristeza ou zanga?

Quando dizemos a uma criança pequena, agora vai para o teu quarto (ou para aquele canto) e pensa no mal que fizeste, será que ela tem de facto a capacidade de ponderar de modo objectivo no que fez, em como o podia ter evitado, como poderá ultrapassar a situação?

O time out, tantas vezes utilizado por pais e professores, é certamente uma medida mais positiva do que a agressão física, mas será que é uma ferramenta eficaz quando queremos uma melhor colaboração da criança? Ou para ajudar a acalmá-las em situações de confronto ou stress?

- Estudos indicam que a criança pequena não tem a articulação mental necessária para este processo de reflexão que lhe queremos exigir
- O time out não ajuda a criança a regular as suas emoções. Na maior parte dos casos acalma-os porque as reprime
- A criança em time out dificilmente reconhece o seu erro ou comportamento. Na maior parte das vezes vai-se sentir incompreendida e fica na defensiva
- O time out pode ajudar a que a criança se sinta uma má pessoa que merece ser castigada
- No time out a criança sente-se mais sozinha e por isso também menos apta a colaborar connosco
- O time out não ajuda à resolução do problema em si e ao encontro de alternativas e soluções

A intenção do time out é muitas vezes positiva: um tempo e "terreno" neutro, fora da situação provocadora, que permita à criança acalmar-se. Mas será que é isso mesmo que acontece?

Da próxima vez que tiver uma situação desafiante com o seu filho e pensar em utilizar o time out, desafio-o a experimentar o "time in". Afaste-o da situação para um local mais neutro e calmo. Experimente dar um abraço. Ouça-o. Ajude-o a acalmar-se. Ajude-o a entender que pode expressar as suas emoções de um outro modo. E a encontrar alternativas e soluções.

Sei que é desafiante. Sei que parece que estamos a aceitar que ultrapassem os limites e a concordar com o comportamento inadequado. Não estamos. E eles entendem. E vai sentir o resultado. Experimente :)

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Broken window, broken heart


O Diogo jogava à bola nas traseiras da casa. O sol convidava a actividades no exterior e não foi preciso muita insistência para o conseguir arrancar dos jogos electrónicos e aproveitar que o primo estava em casa para jogarem futebol.

Passado 20 minutos ouço um vidro a partir-se! Fiquei furiosa! Avisei-os para terem cuidado e não jogarem perto de casa e ainda assim o Diogo conseguiu partir o vidro da sala!

Opção 1 - Grito com ele, digo que o avisei antes. Fica de castigo e não joga jogos electrónicos durante uma semana!

Opção 2 - Conversamos sobre a situação. Analisamos a consequência e discutimos soluções. O Diogo sugere participar na compra do vidro com o dinheiro que tinha juntado para o próximo jogo. Sugere ainda que numa próxima oportunidade joguem no campo de jogos do bairro.

Resultado da opção 1: vidro partido, coração partido. Corta a iniciativa, gera medo, zanga revolta.
Resultado da opção 2: a noção de que temos que assumir as consequências dos nossos actos; de que toda a actividade que faço pode ter consequência no outro; de que todo o erro tem solução

O que quero ensinar aos meus filhos? O que quero que eles retenham? Aceito os erros que os meus filhos cometem e dou-lhes oportunidade de corrigir? Ou castigo e corto oportunidades?

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Oração


Hoje fico-me pelas palavras da Dra. Shefali, porque traduzem a minha intenção.

"Peço de que me libertem da noção de que tenho poder ou jurisdição sobre o espírito do meu filho. Liberto o meu filho da necessidade da minha aprovação, bem como do medo da mina censura. Darei a minha aprovação livremente, pois o meu filho ganhou esse direito. Peço a sabedoria de apreciar a centelha da normalidade do meu filho. Peço a capacidade de não basear o ser do meu filho em notas académicas ou marcos alcançados. Peço a graça de me sentar com o meu filho a cada dia e simplesmente deleitar-me com a presença dele. Peço uma lembrança da minha própria normalidade e a capacidade de me deliciar com essa beleza. Não estou aqui para julgar nem aprovar o estado natural do meu filho. Não estou aqui para determinar que rumo deve tomar a vida do meu filho. Estou aqui como parceiro espiritual do meu filho. O espírito do meu filho é infinitamente sábio e há-de manifestar-se exactamente da maneira que lhe estiver destinada. O espírito do meu filho há de reflectir a maneira em que sou convidado a responder à minha própria essência." (Pais conscientes, Dra. Shefali Tsabary)

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Falas ou comunicas com o teu filho?

O ser humano começa a balbuciar as primeiras palavras geralmente antes de completar um ano de vida. O falar faz parte do nosso dia a dia. Na idade adulta, o nosso vocabulário pode abarcar aproximadamente 80 mil palavras. Falamos muito, sem no entanto conseguirmos muitas vezes expressarmos os nossos sentimentos, as nossas emoções e escutar e compreender as dos outros.

A comunicação é por isso uma arte que vamos desenvolvendo e pode ser sem dúvida uma poderosa ferramenta para o reforço positivo da conexão entre pais e filhos.

Uma comunicação mais consciente, pressupõe clareza, autenticidade, coerência, compreensão e empatia. Deverá ser assertiva, segura, sem agressividade, culpa ou medo. Basta pensarmos um pouco em como gostamos que comuniquem connosco?

Aqui ficam algumas "dicas" para uma comunicação mais consciente:

- Dá-te um tempo: a calma é importante, por isso principalmente em situações mais desafiantes, por vezes é necessário darmo-nos um tempo para respirar fundo. É difícil mas treina-se :) 
- Aproxima-te: Olha nos olhos da criança, desce ao nível dele para conversar
- Fica presente: escuta com atenção e com o coração. Evita interromper
- Pede apenas o que for possível fazer: dizer à criança "Sê corajoso", "Sê extrovertido" é muito teórico. É difícil ser-se algo diferente do que se é.
- Sê objectivo na tua comunicação: "Sê educado" é vago. Dizer: "é agradável quando cumprimentas as pessoas quando chegas" é mais específico.
- Comunica de modo positivo: "coloca os pés no chão" em vez de "não coloques os pés no sofá". É mais eficaz.
- Usa linguagem pessoal: "Eu preciso que fales um pouco mais baixo" em vez de "A mãe precisa que fales um pouco mais baixo". Faz diferença.
- Assume a responsabilidade: o que estás a dizer diz respeito ao outro ou a ti? Ex: "Ouve o que estou a dizer", "Sinto-me irritada contigo".
- Comunica sem pressupostos ou interpretações: "eu sei o que estás a pensar...", "já sei o que vais dizer"
- Evita demasiada interferência: aconselhar, consolar, contar uma história idêntica, manifestar pena, corrigir, encerrar o assunto. Às vezes tudo o que o teu filho precisa é apenas uma coisa: que o escutes!!!

Nota: muitas destas dicas são baseadas na Comunicação Não Violenta, trabalho desenvolvido por Marshall B. Rosenberg há mais de 40 anos. Convido-te a saberes mais sobre o tema!


segunda-feira, 25 de julho de 2016

O bicho papão


"Se não comes tudo, vem aí o bicho papão!"
"Se não te portas bem, vem o polícia e leva-te para a cadeia!"
"Se continuas a roer as unhas, elas vão ficar pretas e caem!"
"Se não fazes já os trabalhos de casa, nunca mais jogas Playstation!"
"Estás a portar-te tão mal, que nunca mais venho ao Shopping contigo!"

Tantas vezes que repetimos estas "ameaças", por herança cultural ou por impulso do momento, que nem pensamos! São reacções do imediato, muitas vezes do "desespero" em situações desafiantes. Tantas vezes as disse, tantas vezes ainda as escuto ditas por outros. Sabemos que não há bicho papão ou polícia que leve a criança por não comer. Sabemos que roer as unhas tem os seus inconvenientes mas que não é por isso que ficam pretas e caem. Sabemos que o "nunca mais" é tempo demasiado para cumprir uma promessa. É mesmo isto que quero dizer/ensinar, ou existem alternativas?

Há que pensar nisto. É simples. Só há um modo verdadeiramente eficiente de ensinar a verdade e a honestidade aos filhos: sendo eu própria autêntica e verdadeira!

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Amar os filhos é suficiente?


"Eu amo o meu filho" é uma frase que ouvimos (e felizmente) da quase totalidade dos pais. Muitas vezes acrescentamos ainda que temos um amor incondicional por eles. Que independentemente do que eles façam, vamos amá-los sempre...

Esta é a reflexão que hoje vos (e me) proponho:

- Quando bato no meu filho, é amor que ele sente?
- Quando não escuto a sua opinião ou versão da história, é amor que ele sente?
- Quando o trato com autoritarismo só porque sou pai/mãe, é amor que ele sente?
- Quando ele quer a minha atenção e eu estou distraída com o telemóvel, é amor que ele sente?
- Quando lhe prometo presentes se ele se comportar de determinada maneira ou cumprir determinado objectivo, é amor incondicional o que ele sente?
- Quando o comparo com outros que têm melhores notas ou melhor comportamento, é amor incondicional que ele sente?

Para irmos ainda mais fundo na questão, podemos reflectir em nós próprios:

- Quando me agridem física ou verbalmente, é amor que eu sinto?
- Quando o meu chefe me "ordena" coisas e não houve a minha opinião, é respeito/amor que sinto?
- Quando o meu marido só me elogia quando estou bem vestida e produzida, é amor incondicional o que sinto?
- Quando o meu amigo só fala comigo quando precisa, é amor o que eu sinto?

É certo que todos nós, enquanto pais, temos no dia a dia comportamentos que os nossos filhos podem interpretar e sentir como amor incondicional, amor condicional e até de não amor.

A consciência de que o amor que tenho é traduzido na comunicação que utilizo e no comportamento que tenho com o meu filho é fundamental para entender que não basta sentir. O amor não basta para educar os nossos filhos. Tem que ser um amor competente. 

Se eu quiser que o meu filho desenvolva uma auto-estima e segurança consistentes, então a minha intenção tem que ser tratá-lo com igual valor (e isso, mais uma vez não significa, não lhe dar limites!) e amá-lo por aquilo que ele é e não pelo que faz. Essa é a base do amor incondicional. 

segunda-feira, 18 de julho de 2016

A infância não é uma preparação para a vida. É vida.


“When we adults think of children, there is a simple truth which we ignore: childhood is not preparation for life, childhood is life. A child isn’t getting ready to live – a child is living. The child is constantly confronted with the nagging question, ‘What are you going to be?’ Courageous would be the youngster who, looking the adult squarely in the face, would say, ‘I’m not going to be anything; I already am.’ ”– Professor T. Ripaldi

Esta frase do Professor Ripaldi marcou e continua a marcar-me enquanto pessoa, enquanto mãe, enquanto educadora. Devia estar escrita em letras garrafais nas paredes de todas as casas, nas salas de todas as escolas, nos manuais de todos os professores e nas secretárias de todos os ministros!

Quantas vezes justificamos as nossas acções perante as crianças (e com toda a boa intenção, não duvido) como "essenciais" para as preparar para o futuro. Quantas vezes as queremos encher de conhecimento, as inscrevemos em actividades, lhes exigimos resultados... a pensar no futuro!

Quantas vezes lhes perguntamos "O que queres ser quando fores grande?", esquecendo o que são hoje? 

Entendo que de certo modo é legítimo, tendo em conta que tudo o que é transmitido (na verdade, mais "vivido" que "transmitido") na infância, moldará a criança enquanto adulto. A diferença está na medida em que esqueço o presente e me foco apenas no futuro. Na medida em que encaro a infância como uma fase de preparação para a vida, esquecendo que ela É vida. Na medida em que esqueço que a criança é um participador activo desde que nasce e não um mero aprendiz! 

Como diz o Professor Ripaldi, as crianças fazem parte activa desta viagem, são tanto aprendizes como mestres, tal como eu e tu.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

"Sou o líder do meu povo. Por isso vou atrás dele"




Gandhi dizia "Sou o líder do meu povo. Por isso vou atrás dele". Esta consciência de responsabilidade na liderança, mas também de que um povo (e um líder) só se desenvolve no respeito, no igual valor, na co-criação e na co-aprendizagem, pode igualmente ser, na minha opinião, adaptada ao contexto da parentalidade.

Esta consciência, a de que somos co-educadores, a de que são os nossos filhos que nos ensinam ao longo da vida a ser (e como ser) educadores, dá-nos uma perspectiva diferente do nosso papel de pais.

Tal como o pintor pinta uma tela e a enche de cores, mas também a observa de longe para dela ter a perspectiva que lhe permite "re-educar-se" para continuar a pintar, também na parentalidade o processo é conjunto e colaborativo, ora perto, ora com maior distância para a observarmos.

E a melhor forma de enquanto pais, estarmos mais conscientes e "presentes", é muitas vezes termos a noção da necessidade desta "presença ausente", do travão ao impulso interventivo, desta observação contemplativa com que tanto aprendemos!

terça-feira, 12 de julho de 2016

Porque quisemos ser pais?


Esta foi a pergunta com que o Professor Hérnan Silva-Santisteban Larco* iniciou uma palestra a que assisti há alguns anos atrás: Porque quisemos ser pais?

Esta pergunta, aparentemente tão simples, inquietou-me. Pensei que tinha a resposta "na ponta da língua" e na realidade não foi fácil. Porque razão quis ser mãe? Um acto de amor? Um acto de altruísmo ou de egoísmo? Realização pessoal? Espiritual? Social?


Desde então, reflicto nesta simples pergunta várias vezes, porque a resposta me ajuda a focar e a estar mais consciente, principalmente em situações de comportamentos mais desafiantes.


Sou mãe para a minha filha agir como eu quero ou sou mãe para agir de acordo com o que a minha filha necessita?



* Hérnan Silva-Sanstisteban Larco é Peruano, nascido em 1948, pai de 3 filhos e residente há 22 anos em Berlim. Licenciado em Filosofia, teologia e educação; Professor e formador Waldorf, consultor educacional

segunda-feira, 4 de julho de 2016

"É bem feito! Eu avisei-te!"


Querida mamã... eu compreendo-te!
Sei que te assustaste quando ia distraído a correr e caí, por isso reagiste assim!
Sei que estás cansada do teu dia de trabalho... eu entendo, também estou cansado do meu dia de escola! Estava tão contente por finalmente estar contigo, que isso me deixou assim...enérgico e distraído. Sei que me avisaste para estar sossegado, mas não fiz por querer.

Querida mamã, é difícil para mim entender, só tenho 5 anos... mas eu sei!
Sei que quando me disseste "É bem feito, eu avisei-te!" não querias dizer que eu merecia ter caído, que merecia o meu joelho todo esfolado e esta dor, na perna e no coração. Sei que quando disseste "É bem feito", não querias dizer que cada vez que estiver alegre e me aventurar na vida, o resultado é sempre o sofrimento. E que eu o mereço.

Querida mamã...eu amo-te! 
No fundo do meu coração sei que quando me disseste "É bem feito, eu avisei-te!" o que me querias transmitir é que me amas e me queres proteger. E que como és mais crescida consegues ver os riscos e acidentes eminentes e queres evitar que eu tenha que passar por eles. Sei que queres ser ouvida, por mim e pelos outros. Sei que não queres que me magoe e que quando isso acontece não sabes bem como reagir. Ficas assustada.

Querida mamã, só tenho 5 anos mas não precisas de ficar assustada. Eu entendo! Cair faz parte da vida e tudo o que preciso é de um abraço. E tu também.

domingo, 3 de julho de 2016

Be alert and mindul

"If you would be a wise parent

Be careful in all you do and say.

Know that each action, each word

Has its effect.

Be alert and mindful,

Living fully in each presente moment.

Treat your children with courtesy

As you would treat a guest.

Be ready in a moment

To let go of one plan and embark on another

If your inner voice so urges.

Have room within your heart

To hear the voice of both

Your children and your own spirit.

Do not expect fulfillment

From events or people

Outside yourself.

Welcome and accept things as they are.

Welcome and accept children as they are.

Treat yourself with gentle care.

These qualities emerge naturally,

Not by force of will."

William Martin, The parents Tao Te Ching
(um livro que sem qualquer dúvida recomendo)