segunda-feira, 25 de julho de 2016

O bicho papão


"Se não comes tudo, vem aí o bicho papão!"
"Se não te portas bem, vem o polícia e leva-te para a cadeia!"
"Se continuas a roer as unhas, elas vão ficar pretas e caem!"
"Se não fazes já os trabalhos de casa, nunca mais jogas Playstation!"
"Estás a portar-te tão mal, que nunca mais venho ao Shopping contigo!"

Tantas vezes que repetimos estas "ameaças", por herança cultural ou por impulso do momento, que nem pensamos! São reacções do imediato, muitas vezes do "desespero" em situações desafiantes. Tantas vezes as disse, tantas vezes ainda as escuto ditas por outros. Sabemos que não há bicho papão ou polícia que leve a criança por não comer. Sabemos que roer as unhas tem os seus inconvenientes mas que não é por isso que ficam pretas e caem. Sabemos que o "nunca mais" é tempo demasiado para cumprir uma promessa. É mesmo isto que quero dizer/ensinar, ou existem alternativas?

Há que pensar nisto. É simples. Só há um modo verdadeiramente eficiente de ensinar a verdade e a honestidade aos filhos: sendo eu própria autêntica e verdadeira!

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Amar os filhos é suficiente?


"Eu amo o meu filho" é uma frase que ouvimos (e felizmente) da quase totalidade dos pais. Muitas vezes acrescentamos ainda que temos um amor incondicional por eles. Que independentemente do que eles façam, vamos amá-los sempre...

Esta é a reflexão que hoje vos (e me) proponho:

- Quando bato no meu filho, é amor que ele sente?
- Quando não escuto a sua opinião ou versão da história, é amor que ele sente?
- Quando o trato com autoritarismo só porque sou pai/mãe, é amor que ele sente?
- Quando ele quer a minha atenção e eu estou distraída com o telemóvel, é amor que ele sente?
- Quando lhe prometo presentes se ele se comportar de determinada maneira ou cumprir determinado objectivo, é amor incondicional o que ele sente?
- Quando o comparo com outros que têm melhores notas ou melhor comportamento, é amor incondicional que ele sente?

Para irmos ainda mais fundo na questão, podemos reflectir em nós próprios:

- Quando me agridem física ou verbalmente, é amor que eu sinto?
- Quando o meu chefe me "ordena" coisas e não houve a minha opinião, é respeito/amor que sinto?
- Quando o meu marido só me elogia quando estou bem vestida e produzida, é amor incondicional o que sinto?
- Quando o meu amigo só fala comigo quando precisa, é amor o que eu sinto?

É certo que todos nós, enquanto pais, temos no dia a dia comportamentos que os nossos filhos podem interpretar e sentir como amor incondicional, amor condicional e até de não amor.

A consciência de que o amor que tenho é traduzido na comunicação que utilizo e no comportamento que tenho com o meu filho é fundamental para entender que não basta sentir. O amor não basta para educar os nossos filhos. Tem que ser um amor competente. 

Se eu quiser que o meu filho desenvolva uma auto-estima e segurança consistentes, então a minha intenção tem que ser tratá-lo com igual valor (e isso, mais uma vez não significa, não lhe dar limites!) e amá-lo por aquilo que ele é e não pelo que faz. Essa é a base do amor incondicional. 

segunda-feira, 18 de julho de 2016

A infância não é uma preparação para a vida. É vida.


“When we adults think of children, there is a simple truth which we ignore: childhood is not preparation for life, childhood is life. A child isn’t getting ready to live – a child is living. The child is constantly confronted with the nagging question, ‘What are you going to be?’ Courageous would be the youngster who, looking the adult squarely in the face, would say, ‘I’m not going to be anything; I already am.’ ”– Professor T. Ripaldi

Esta frase do Professor Ripaldi marcou e continua a marcar-me enquanto pessoa, enquanto mãe, enquanto educadora. Devia estar escrita em letras garrafais nas paredes de todas as casas, nas salas de todas as escolas, nos manuais de todos os professores e nas secretárias de todos os ministros!

Quantas vezes justificamos as nossas acções perante as crianças (e com toda a boa intenção, não duvido) como "essenciais" para as preparar para o futuro. Quantas vezes as queremos encher de conhecimento, as inscrevemos em actividades, lhes exigimos resultados... a pensar no futuro!

Quantas vezes lhes perguntamos "O que queres ser quando fores grande?", esquecendo o que são hoje? 

Entendo que de certo modo é legítimo, tendo em conta que tudo o que é transmitido (na verdade, mais "vivido" que "transmitido") na infância, moldará a criança enquanto adulto. A diferença está na medida em que esqueço o presente e me foco apenas no futuro. Na medida em que encaro a infância como uma fase de preparação para a vida, esquecendo que ela É vida. Na medida em que esqueço que a criança é um participador activo desde que nasce e não um mero aprendiz! 

Como diz o Professor Ripaldi, as crianças fazem parte activa desta viagem, são tanto aprendizes como mestres, tal como eu e tu.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

"Sou o líder do meu povo. Por isso vou atrás dele"




Gandhi dizia "Sou o líder do meu povo. Por isso vou atrás dele". Esta consciência de responsabilidade na liderança, mas também de que um povo (e um líder) só se desenvolve no respeito, no igual valor, na co-criação e na co-aprendizagem, pode igualmente ser, na minha opinião, adaptada ao contexto da parentalidade.

Esta consciência, a de que somos co-educadores, a de que são os nossos filhos que nos ensinam ao longo da vida a ser (e como ser) educadores, dá-nos uma perspectiva diferente do nosso papel de pais.

Tal como o pintor pinta uma tela e a enche de cores, mas também a observa de longe para dela ter a perspectiva que lhe permite "re-educar-se" para continuar a pintar, também na parentalidade o processo é conjunto e colaborativo, ora perto, ora com maior distância para a observarmos.

E a melhor forma de enquanto pais, estarmos mais conscientes e "presentes", é muitas vezes termos a noção da necessidade desta "presença ausente", do travão ao impulso interventivo, desta observação contemplativa com que tanto aprendemos!

terça-feira, 12 de julho de 2016

Porque quisemos ser pais?


Esta foi a pergunta com que o Professor Hérnan Silva-Santisteban Larco* iniciou uma palestra a que assisti há alguns anos atrás: Porque quisemos ser pais?

Esta pergunta, aparentemente tão simples, inquietou-me. Pensei que tinha a resposta "na ponta da língua" e na realidade não foi fácil. Porque razão quis ser mãe? Um acto de amor? Um acto de altruísmo ou de egoísmo? Realização pessoal? Espiritual? Social?


Desde então, reflicto nesta simples pergunta várias vezes, porque a resposta me ajuda a focar e a estar mais consciente, principalmente em situações de comportamentos mais desafiantes.


Sou mãe para a minha filha agir como eu quero ou sou mãe para agir de acordo com o que a minha filha necessita?



* Hérnan Silva-Sanstisteban Larco é Peruano, nascido em 1948, pai de 3 filhos e residente há 22 anos em Berlim. Licenciado em Filosofia, teologia e educação; Professor e formador Waldorf, consultor educacional

segunda-feira, 4 de julho de 2016

"É bem feito! Eu avisei-te!"


Querida mamã... eu compreendo-te!
Sei que te assustaste quando ia distraído a correr e caí, por isso reagiste assim!
Sei que estás cansada do teu dia de trabalho... eu entendo, também estou cansado do meu dia de escola! Estava tão contente por finalmente estar contigo, que isso me deixou assim...enérgico e distraído. Sei que me avisaste para estar sossegado, mas não fiz por querer.

Querida mamã, é difícil para mim entender, só tenho 5 anos... mas eu sei!
Sei que quando me disseste "É bem feito, eu avisei-te!" não querias dizer que eu merecia ter caído, que merecia o meu joelho todo esfolado e esta dor, na perna e no coração. Sei que quando disseste "É bem feito", não querias dizer que cada vez que estiver alegre e me aventurar na vida, o resultado é sempre o sofrimento. E que eu o mereço.

Querida mamã...eu amo-te! 
No fundo do meu coração sei que quando me disseste "É bem feito, eu avisei-te!" o que me querias transmitir é que me amas e me queres proteger. E que como és mais crescida consegues ver os riscos e acidentes eminentes e queres evitar que eu tenha que passar por eles. Sei que queres ser ouvida, por mim e pelos outros. Sei que não queres que me magoe e que quando isso acontece não sabes bem como reagir. Ficas assustada.

Querida mamã, só tenho 5 anos mas não precisas de ficar assustada. Eu entendo! Cair faz parte da vida e tudo o que preciso é de um abraço. E tu também.

domingo, 3 de julho de 2016

Be alert and mindul

"If you would be a wise parent

Be careful in all you do and say.

Know that each action, each word

Has its effect.

Be alert and mindful,

Living fully in each presente moment.

Treat your children with courtesy

As you would treat a guest.

Be ready in a moment

To let go of one plan and embark on another

If your inner voice so urges.

Have room within your heart

To hear the voice of both

Your children and your own spirit.

Do not expect fulfillment

From events or people

Outside yourself.

Welcome and accept things as they are.

Welcome and accept children as they are.

Treat yourself with gentle care.

These qualities emerge naturally,

Not by force of will."

William Martin, The parents Tao Te Ching
(um livro que sem qualquer dúvida recomendo)

Qual é a minha intenção?

Esta foi sem dúvida a pergunta mais importante que me fiz, ao iniciar este caminho da Parentalidade Consciente: Qual é a minha intenção enquanto mãe?

Temos, claro, uma ideia geral dos pais que queremos ser, mas tantas vezes somos "obrigados" a agir instintivamente que as dúvidas surgem, principalmente quando o resultado - habitualmente o comportamento - não é o que esperamos.

Lemos livros, ouvimos opiniões, somos criticados ou apoiados e as nossas acções ficam confusas.

Ter as nossas intenções enquanto mãe/ pai bem definidas, ajuda-nos a escolher melhor o modo como agir no nosso dia a dia!

Essa reflexão é por isso essencial:

- Que tipo de mãe/ pai quero ser? (pode ajudar pensar o que gostaria que o meu filho dissesse de mim em adulto)

- Que qualidades, características e capacidades gostaria que a minha filha tivesse? Como devo agir para que elas se desenvolvam? Que tipo de pessoa devo ser? (como exemplo: se quero que a minha filha seja empática, respeitadora, autónoma, trabalhadora… que tipo de pessoa eu devo ser para potenciar isso? As intenções devem ser centradas em nós mesmos e não nos nossos filhos)

Esta reflexão constituem uma lista de intenções poderosíssima, não no sentido de nos criar pressão ou frustração quando não atingidas, mas servindo de farol ao longo da nossa vida e das nossas acções.

Não é uma lista estática, é um processo contínuo.

Partilho convosco o resultado da minha reflexão! O que eu quero ser enquanto mãe:






O que é isso de Parentalidade Consciente?


Ao longo dos últimos anos, tenho aprofundado o meu estudo na área da Parentalidade Consciente, um tema que me apaixona e com o qual me identifico cada vez mais. É abordado nos diferentes meios de comunicação muitas vezes com significados diferentes ou é interpretado de modo menos correcto. Então o que significa Parentalidade Consciente? E o que não significa?
Ser uma mãe ou pai consciente é um processo contínuo, uma aprendizagem constante. É exercer a nossa parentalidade de uma forma consciente, olhando para a criança de uma forma mais autêntica, respeitando melhor sua individualidade, percebendo suas necessidades e (re)conhecendo sua personalidade.
Parentalidade consciente é conseguir fazer escolhas mais conscientes e alinhadas com os valores essenciais, com as nossas intenções. É focarmo-nos não no comportamento da criança, mas nas necessidades que estão por detrás desse comportamento.
Parentalidade consciente não é ser-se perfeito, ao contrário, é abraçar a própria vulnerabilidade. Se aceitar como é. Ser quem se é de verdade. E aceitar a criança tal qual ela é. Fugir do padrão do que queremos que ela seja.
Parentalidade consciente não é não estabelecer limites, não impor regras. A criança precisa de autentidade - de expressar e desenvolver a sua identidade, do mesmo modo que precisa de contenção - respeitando a identidade do outro.
Muito há a falar sobre este tema, que iremos desenvolvendo ao longo do tempo.
Partilho convosco os quatro valores da Parentalidade Consciente, na perspectiva da Mikaela Öwen, minha formadora e sem dúvida a especialista que em Portugal tem estudado e desenvolvido mais este tema:

Igual Valor
O mesmo respeito pelo valor de ambas as partes. Não significa que a criança tem sempre o que quer, mas sim que é respeitada da mesma forma que o adulto
Respeito pela Integridade/ Identidade
Quais são as suas necessidades centrais, limites pessoais e valores?
Autenticidade
Linguagem pessoal, ser honesto com o seu próprio medo e vulnerabilidade
Responsabilidade Pessoal

Assumimos a responsabilidade pelas nossas necessidades e limites

sábado, 2 de julho de 2016

Os Pais que somos


Por mais livros que existam sobre o tema e por mais orientações que tenhamos dos nossos amigos, familiares e profissionais de saúde que nos rodeiam... a realidade é bem diferente! A maior parte de nós sente-se perdido, incapaz de traduzir as indicações que este pequeno ser que nasce sem livro de instruções, nos quer transmitir.

Sabemos o que os nossos pais foram/são para nós e temos uma ideia relativamente clara dos pais que queremos ser.

Teremos mesmo?

Teremos realmente consciência dos pais que somos? Sabemos claramente os pais que queremos ser?

Todo o input que recebemos da sociedade transmite-nos um padrão de parentalidade que nos influencia diariamente. Agimos de acordo com essas opiniões e crenças ou com aquilo em que de verdade acreditamos?

As opiniões misturam-se, contradizem-se, confundem-nos! 

Voltemos ao essencial... o que diz a tua intuição?