segunda-feira, 16 de abril de 2018

A pausa sagrada


“Entre o estímulo e a resposta, existe um espaço.
Nesse espaço reside o nosso poder para escolher a nossa resposta.
Na nossa resposta reside o nosso crescimento e a nossa liberdade”

Foi com esta frase que Steven Covey resumiu o trabalho de Viktor Frankl. Viktor Frankl foi um médico psiquiatra austríaco, sobrevivente do holocausto e que escreveu um dos meus livros preferidos: “O homem em busca de um sentido.” Neste livro Frankl relata a sua experiência no campo de concentração, nomeadamente a observação sobre o modo como dentro do mesmo contexto (neste caso terrífico) os seres humanos têm a capacidade de reagir de modo tão diferente, movidos pelo sentido que dão à sua vida, às suas experiências, à sua dor.
Quando vivemos em piloto automático, sempre ocupados, sempre ligados, perdemos muitas vezes a conexão com o que estamos a fazer e a viver. Perdemos o sentido da nossa ação, da nossa vivência. Quantas vezes sentimos que estamos a “empurrar a vida com a barriga” e que precisávamos de uma paragem e distanciamento (como nas imagens dos filmes em que tudo para e só nós andamos) para conseguirmos pensar, organizar, observar?
Mas a vida não para e obriga-nos a encontrar ferramentas para estarmos mais presentes, mais conscientes e que nos ajudem a não perder o sentido do que fazemos.
Na minha vida, a ferramenta mais simples e mais eficaz que tenho encontrado é a que chamo de “pausa sagrada”. E não… não são 3 dias enfiada num retiro ou num spa paradisíaco no meio da natureza (e sim, bem que podia ser!!!). A pausa sagrada podem ser 3 minutos, mas também 3 segundos. É o momento em que paro e conscientemente respiro. Antes de entrar em casa. Antes de uma reunião. Enquanto estou no elevador. Antes de ter “aquela” conversa ou escrever “aquele e-mail”. Antes de dar aquela resposta naquela discussão. Antes de ralhar com a minha filha. Logo que acordo. Antes de dormir. Respiro – Foco-me na respiração. Respiro - Sinto e relaxo o meu corpo. Respiro - Penso “o que é mais importante neste momento?” Tão simples assim.
Nem sempre é automático, mas treina-se. Nem sempre me lembro de o fazer, mas sei que quando o faço estou mais presente. E sou mais coerente com a minha intuição e intenção. Com o sentido que quero dar à minha vida.
Entre o estímulo e a resposta há sempre um espaço. Pode ser de um segundo, mas ele existe. Esse espaço permite-me uma “pausa sagrada”. E com essa pausa, a minha resposta revela mais aquilo que sou e o que quero. E o impacto que tenho vai mais de encontro à minha intenção.


Artigo publicado originariamente em www.mães.pt

Os quatro acordos na parentalidade


Talvez por mera ignorância ou porque (assim creio) a informação nos chega no momento em que mais precisamos, apenas muito recentemente tive conhecimento do livro “The Four Agreements: A Practical Guide to Personal Freedom”, um livro baseado na antiga sabedoria dos Índios Toltecas. O livro foi escrito em 1997 por Don Miguel Ruiz, um médico cirurgião mexicano que após um grave acidente de viação mudou a direção da sua vida, dedicando-se a partilhar a sabedoria da ancestral cultura tolteca através dos seus livros e conferências por todo o mundo. O livro tem um potencial transformador, na medida em que nos faz questionar aspetos simples mas fundamentais na relação com os outros e connosco. Na minha reflexão pessoal olhei para estes princípios também do ponto de vista da parentalidade e da relação que estabelecemos com os nossos filhos. Partilho convosco esta minha adaptação pessoal dos quatro acordos aplicados à parentalidade:
1.     Seja impecável com a sua palavra.
Fale com o seu filho com integridade. As crianças percebem muito bem quando dizemos uma coisa e agimos de forma contrária. Ou quando dizemos algo em que não acreditamos realmente. Seja cuidadoso nas palavras que dirige ao seu filho, aos rótulos que utiliza. Evite usar a palavra para falar contra si mesmo ou para criar maledicência sobre os outros. O seu testemunho é fundamental na aprendizagem do seu filho. Use o poder da sua palavra na direção da verdade e do amor.

2.     Não tome nada como sendo pessoal
Nada do que o seu filho diz ou faz é “para o testar ou desafiar”. O comportamento revela normalmente necessidades não satisfeitas e muitas vezes é uma projeção das nossas próprias realidades enquanto pais. Basta pensarmos quantas vezes a mesma situação tem uma reação completamente diferente da nossa parte dependendo do modo como estamos ou nos sentimos? Quantas vezes o que está em causa não é o nosso filho ou a situação em si, mas o modo como isso afeta a nossa identidade enquanto pais?
Procure informação e aprendizagem, mas siga a sua intuição de pai/ mãe. O que os outros dizem ou fazem só a eles diz respeito. Quantas vezes atuamos contra a nossa intuição, apenas porque nos sentimos pressionados por crenças sociais, familiares ou pelas opiniões dos que nos rodeiam?

3.     Não faça suposições
Olhe para o seu filho e para as situações com mente de principiante e curiosidade. Tenha a coragem para perguntar e também para expressar o que realmente quer. Comunique de forma clara para evitar mal-entendidos, tristeza e drama. Estabeleça os seus limites de forma clara, mas respeite os limites e emoções do seu filho numa perspetiva de igual valor.

4.     Dê sempre o seu melhor
Se em qualquer circunstância, fizer o melhor que conseguir, evitará autojulgamentos, sentimento de culpa e arrependimento. Mas tenhamos consciência que o nosso melhor vai sempre mudando a cada momento. É diferente quanto estamos saudáveis ou quando estamos doentes, por exemplo. Em cada momento, fazemos o melhor que conseguimos com o conhecimento e as ferramentas que temos. Significa que aceitamos que não somos perfeitos, mas não implica que não tentemos melhorar.


Artigo publicado originalmente em www.mães.pt

Já te deste um abraço hoje?



Como mães e pais, a grande maioria de nós sente-se totalmente esgotado… no nosso âmago. Sentimo-lo nos ossos!
Como pais presentes e conscientes, estamos determinados a demonstrar aos nossos filhos o quanto importam, a responder às suas necessidades físicas e emocionais, a sentirem-se amados por aquilo que são. Temos noção como queremos exercer a nossa parentalidade: com presença, curiosidade, empatia, compreensão, respeito, colaboração e afeto. Ainda assim, damos connosco numa luta desenfreada entre as nossas intenções e as nossas ações desesperadas com castigos, ameaças e gritos. E completamente exaustos!
Na maioria dos casos não estamos exaustos por sermos indisciplinados ou desorganizados. Estamos esgotados porque cuidamos pouco de nós e apesar da parentalidade ser tão bonita, plena e gratificante, também é exigente física e emocionalmente.
Acredito profundamente que a base da parentalidade é a qualidade da conexão que criamos com os nossos filhos! E isso é fácil de entender! O que tantas vezes fica esquecido é a qualidade da conexão que temos connosco. Não é possível cuidarmos bem dos nossos filhos sem cuidarmos de nós também! É como querermos entrar numa corrida com um pé torcido.
O exemplo que damos aos nossos filhos – o de cuidarmos de nós, o de merecermos esse cuidado – é também um testemunho fundamental ao seu desenvolvimento e à sua própria autoestima.
Como cuidarmos então de nós sem envolver um sobrecarregar das nossas agendas, sem envolver mais tempo ou dinheiro? Com auto-compaixão!
A auto-compaixão tem sido erroneamente associada a uma exagerada autocomplacência o que eventualmente poderia levar à falta de ação. Na realidade, estudos científicos demonstram que temos mais motivação e energia quando cultivamos a auto-compaixão, porque quando nos sentimos mal fazemos pior e quando nos sentimos melhor (ou encaramos de forma mais positiva os desafios e erros) temos mais energia para melhorar. Quando nos julgamos, entramos facilmente no mesmo ciclo de erro-julgamento-frustração-exaustão e perdemos a energia necessária para agir de modo diferente.
Como nos podemos tornar mais auto-compassivos? Aqui ficam algumas dicas:
- Abraça-te (Não estou a brincar. Abraça-te mesmo!)
- Faz pequenas pausas para respirar de forma mais consciente (inspira “pela barriga” e expira lentamente)
- Observa sem julgamento e sem autocrítica (ou interrompe-a assim que a detetares!)
- Fala para ti como falarias para um melhor amigo/amiga se estivesse na mesma situação
Como pais, é tão fundamental estarmos atentos às necessidades dos nossos filhos como às nossas próprias necessidades. E isso não é egoísmo. É autocuidado.


Artigo publicado originalmente em http://www.mães.pt