terça-feira, 25 de outubro de 2016

De pantufas


"Sabes mãe, ainda sou tão pequena!
Gosto de imaginar e de sonhar...
Gosto de saltar e de brincar. Gosto de aprender e investigar. Gosto de perguntar e de escutar. 
Quero dançar! Rodopiar!Aprender com o cérebro mas também com as mãos, com as pernas, até com os pés! 
Querem "prender-me" à cadeira, aos livros, aos números... e eu só quero voar!"

Na escola de Jardim de Infância e na escola de 1ºciclo da minha filha L., os alunos calçavam umas pantufas mal chegavam à escola (ou galochas quando andassem no exterior). E este "ritual" aparentemente tão simples, sempre teve um significado muito grande para mim. Porque a minha "mente" trabalha melhor quando estou confortável! Porque a minha "mente" é mais livre e criativa quando não me sinto aprisionada! Porque se estou confortável me sinto mais calma e aumenta a minha dedicação, o focus, a criatividade, a boa disposição.

Porque nos é tão difícil "descalçar os sapatos"?
Que medos temos em questionar os hábitos?
Porque é tão importante mantermos o formalismo?

Porque nos é tão difícil ser livres? 


sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Sra. Doutora... fica sem coffee-break e não tem intervalo!


Estive num Congresso durante dois dias. Fui eu que decidi ir porque os temas me interessavam. Estive sentada numa sala durante 7 horas. Os intervenientes mudaram de hora a hora, por isso os temas foram variando. As sessões tiveram dois intervalos de manhã e dois à tarde. Cada um deles de 20 minutos e com coffee-break incluído. Ouvi com atenção alguns temas, noutros "desliguei". Vi muita gente a conversar com o parceiro do lado, outros ao telemóvel e alguns mesmo de olhos fechados (a meditar ou a dormir?). Alguns saíam a meio das sessões, outros conseguiram ficar até ao fim. "São muitas horas sentado". "Estava a ser uma seca". São adultos.

Não ouvi nenhum dos speakers ou dos presidentes de mesa a dizer: o sr. doutor ali atrás... esteve todo o congresso desatento e agitado. Está de castigo. No intervalo fica dentro da sala. Não pode sair para conversar com os outros nem para tomar o coffee-break (e já agora pode escrever 20 vezes no caderno: vou ouvir todos os intervenientes com atenção).

Pois...

A maior parte das crianças passam cerca de oito horas na escola, a maior parte delas sentados. Com temas que não escolheram, com o mesmo professor ou com vários, com aulas que chegam a ter 2 horas seguidas. Não podem pegar no telemóvel, sair a meio da aula, dormir e eventualmente falar com os parceiros do lado. Idealmente têm que estar 100% atentos e quietos. São crianças.

Sei que "faz parte" da escola...
Também "faz parte" da maior parte das escolas castigar os meninos irrequietos (Sim, os que têm energia para gastar, os que precisam de se expressar, os que têm dificuldade em estar sentados tanto tempo, os que têm dificuldade de concentração, os que gostariam de estar a aprender outra coisa... os que simplesmente têm comportamento de criança!) com uma "não ida ao recreio". Recreio esse que seria eventualmente a única oportunidade do dia para se mexerem, saltar, jogar, conversar, expressar-se.

Não consigo ser indiferente a isto. 

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Quem és tu mamã?


Na parentalidade não há perfeição. Acredito que as mães imperfeitas, mas que sabem reconhecer a imperfeição como parte do processo e da vida, conseguem melhores resultados do que mães absolutamente obcecadas na perfeição e no suposto ideal.

Viver cada momento tal qual é, aceitá-lo, reconhecê-lo e seguir em frente, é meio caminho para conseguirmos fazer melhor numa próxima oportunidade.

A sociedade exige muito de nós, mulheres - esposas, mães, amigas, profissionais, filhas. Ou será que NÓS é que temos padrões elevados que achamos que temos que cumprir e exigimos demais de nós próprias? Lemos sobre parentalidade, ouvimos, pesquisamos. Sabemos o caminho que queremos tomar (sabemos?) mas nem sempre o conseguimos.

Nas famílias que vou acompanhando, encontro muitas mães com sentimento de culpa. Porque ocupam muito tempo no trabalho, porque não conseguem cozinhar as refeições saudáveis que desejavam, porque deixam o filho passar mais tempo a ver televisão do que acham correcto, porque viajam demais, porque gritam muito, porque não sentem paciência, porque não têm dinheiro para comprar os sapatos de marca que ele quer, porque andam stressadas, porque têm sempre muito que fazer, porque fazem tudo a correr, porque não lhes conseguem dar o tempo e a atenção que desejavam, porque, porque, porque...

Vemos ao espelho uma mãe que muitas vezes não é a que existe de facto e a que os nossos filhos sentem! Por essa razão, proponho muitas vezes a estas mães: já perguntaste ao teu filho?

- Pergunta como te descreveria.
- Pergunta o que ele gosta mais de fazer contigo.
- Pergunta momentos que tenham tido e que ele gostou mais.
- Pergunta o que mais gosta em ti.
- Pergunta o que gostaria que fosse diferente.

A sinceridade natural das crianças vai fazer com que te conheças melhor. Que saibas o que é mais importante para a vossa relação. Algumas vezes descobres que o que ele mais gosta é quando o sentas ao colo e lhe dás aquele abraço, que um dos momentos mais divertidos foi aquele em que passaste uma manhã só com ele e foram comer um gelado e que o que menos gosta é quando te esqueces de lhe ir dar um beijo quando ele já está na cama. 

E sim. Às vezes o essencial é mesmo assim tão simples. 

(Ah... e claro: Quem és tu papá? Aplica-se o mesmo!)