sexta-feira, 30 de setembro de 2016

És parvo ou quê?


Na minha vida de adulta, especialmente na vida profissional, aprendi que é fundamental não levarmos "a peito" o que muitas vezes nos dizem. Quando alguém me dirige uma crítica (até positiva!) está normalmente a avaliar aquilo que eu FIZ e não aquilo que eu SOU. Essa capacidade que adquirimos (mais relacionada com a inteligência emocional) ajuda-nos na interacção com o outro, na articulação social, mas também a evitar que os nossos níveis de autoestima (ou pelo menos de autoconfiança) vão "por água abaixo". 

Enquanto adultos, sentimo-nos "ofendidos" se alguém nos dirige uma crítica pessoal: és um parvo, és um estúpido, és um incompetente, um incapaz, um mentiroso, um preguiçoso.

Acontece provavelmente o mesmo quando um professor dirige essas palavras ao nosso filho ou algum colega...

Então porque nos sai tão facilmente da boca alguns destes rótulos quando discutimos com os nossos filhos? 

O que vos proponho hoje é uma reflexão:

Tu és aquilo que és e não aquilo que os outros te chamam ou pensam de ti!

E essa é uma "lição de vida" para mim fundamental que devemos passar às crianças. Devemos sempre tentar crescer e melhorar enquanto pessoas, mas não é aquilo que os outros acham de nós que nos define.

E uma proposta: Foca-te na acção e não na pessoa!

Em vez de dizer "és parvo!" experimenta dizer "fizeste uma parvoíce!" (mesmo que não seja o ideal, o impacto já é diferente)
Em vez de dizer "és um preguiçoso!", experimenta dizer "custa-te sempre levantar da cama de manhã".
Em vez de dizer "és um desastrado, só fazes porcaria", experimenta dizer "faz uma coisa de cada vez para não acontecerem estes desastres. Deixaste cair um copo, ajudas a limpar?"
Em vez de dizer "oh, ele é muito tímido!" experimenta dizer "ele gosta de conversar quando já conhece melhor as pessoas"

Parece a mesma coisa, mas não é. 

As crianças acreditam e tornam-se naquilo que lhes chamamos. "Vale mesmo a pena pensar nisto"...

"Children are apt to live up to what you believe on them" (Lady Bird Johnson)



sexta-feira, 23 de setembro de 2016

O "inferno" das manhãs - dicas para mudar a rotina de stress

O despertador toca pela segunda vez. Queremos prolongar por mais uns minutos o nosso descanso na cama, mas não dá para atrasar mais. A escola não espera, nem a reunião que temos agendada. Abrimos a janela, chamamos pelos filhos (umas 10 vezes antes de finalmente se arranjarem!) e corremos tudo a toque de caixa! Assim começa o "inferno" das manhãs mal começa a época escolar. Foi-se a calma, foram-se os planos, foi-se a conexão e a presença. O relógio não para!

É-te familiar esta sensação? Vamos tentando acordar mais cedo, respirar fundo, ser criativos, mas mal a rotina se instala, parece que volta tudo ao mesmo! Neste início de época escolar, deixo-te por isso umas dicas que podem ajudar a manhãs mais calmas e com maior conexão com os nossos filhos.

1. Primeiro tu!
Se te deitaste muito tarde, se estás exausta logo pela manhã, como pode haver boa disposição e paciência para organizar tudo de manhã? As manhãs exigem energia e criatividade da tua parte! Sugestão: dormir o máximo que consigas (e para isso não podemos querer fazer tudo durante a semana de trabalho!); acorda mais cedo que eles para te poderes arranjar e respirar fundo antes de os ajudares; envolve a/o tua/teu companheira/o se os horários o permitirem (alterna quem leva à escola ou distribui as tarefas de ajuda pelos dois); cuida de ti durante o dia (arranja um momento, nem que sejam 10 minutos, para respirar fundo!).

2. Cria conexão com as crianças!
Como te sentes se quando chegas ao teu trabalho o teu chefe está logo mal disposto e mal te diz bom dia? É difícil ficar bem disposta assim, certo? Aproveita a manhã, nem que sejam 2 minutos, para criar conexão com o(s) teu(s) filho(s). Um abraço na cama, o dar a mão até à cozinha, uma pequena conversa, um "bom dia" bem disposto (mesmo que não seja imediatamente retribuído!) é muitas vezes o suficiente para acordar mais tranquilo e começar melhor o dia.

3. Prepara as coisas no dia anterior!
As mochilas, as roupas, as merendas - tudo o que puder ser preparado no dia anterior, prepara! E envolve-os nas escolhas e na preparação.

4. Respeita a individualidade de cada criança!
Sabemos que existem crianças (e adultos!) que acordam cheios de energia e boa disposição pela manhã. E outras em que parece que começam a "funcionar" perto da hora de almoço. Algumas que começam logo a conversar e outras que preferem que não lhes digas nada. Algumas que acordam cheias de fome e outras que ficam mal dispostas só de pensar em comida de manhã. Sê flexível e criativa! Não forces muita conversa se o teu filho não quer conversar; não faz mal de vez em quando só comer no carro durante a viagem para a escola ou reforçar o lanche a meio da manhã. Simplifica.

5. Dá opções!
"Mãe, não quero vestir isto!! Não gosto destes sapatos! Não quero comer flocos!!" Dá opções de escolha! Como exemplo: dá algumas opções de roupa mas permite que ele escolha entre elas; deixa-o escolher o que quer vestir desde que leve um casaco; deixa-o escolher o que comer, desde que sejam opções que consideres saudáveis ou desde que seja ele a preparar o pequeno almoço. Acima de tudo respeita os teus limites e os deles.

6. Envolve-os!
O balanço entre a autonomia, responsabilidade e a ajuda necessária é fundamental. Conta que precisem da tua ajuda para passar a difícil rotina matinal. Mas de acordo com a idade, vai-lhes dando autonomia e responsabilidade (no toque do despertador, na preparação do pequeno almoço, etc). Queremos que cooperem, mais do que "obedeçam". Conversa e planeia em família (com as crianças também!) como podem organizar melhor as manhãs, de modo a ser mais fácil para todos.

7. Uma coisa de cada vez!
"Põe a roupa suja no cesto, lava os dentes, calça-te e depois vem tomar o pequeno almoço. Mas não esqueças a mochila!" Ordens! Ordens! Ordens!!! Uma sequência  que entra por um ouvido e às vezes sai pelo outro, porque não só cria maior tensão e stress, como são coisas demais para decorar e fazer ao mesmo tempo. Experimenta dizer uma coisa de cada vez. Ou criar uma lista de coisas a não esquecer de manhã.  

8. Vive cada momento!
Respira fundo, tenta manter-te presente no momento. No teu banho, no abraço ao teu filho, no primeiro olhar do dia pela janela, na cor da roupa que escolhes para vestir, na música que escolhes ouvir de manhã, na condução até à escola (já agora, se tiveres hipótese de ir a pé, nem que seja parte do percurso, caminha!!!! Faz milagres ;)). Vive cada manhã com mente de principiante. Não é fácil. Mas é gratificante! 



segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Sente o que o teu coração te diz

Sim, sou confrontada muitas vezes com opiniões diferentes da minha no que respeita à parentalidade. Atitudes que me fazem querer tapar os olhos ou iniciar uma grande discussão. Fora e dentro da minha família. Fora e dentro da minha casa. Uma bofetada por impulso que faz doer o coração; palavras duras que doem mais que uma bofetada; pais a ignorar crianças a suplicar atenção; pais a pagar com brinquedos a falta de tempo e de afecto; falta de comunicação de limites entre filhos e pais.

Ninguém nasce ensinado e a grande maioria dos pais tem exactamente o mesmo objectivo: serem "bons" pais, educarem os filhos de modo a eles crescerem integrados numa sociedade e a serem felizes. Simplesmente usamos ferramentas diferentes, uns por crenças, por hábito, pelas nossas próprias histórias de infância, por pressão familiar ou social, outros tentando aplicar pedagogias, filosofias, teorias que vamos ouvindo ou lendo nos livros.

Como reagir a estas diferenças, quando elas estão dentro da nossa própria casa ou da nossa família? Respiro fundo. Pratico o não julgamento. E acima de tudo tento dar o meu testemunho. Faço o que sinto que está correcto. Acredito que vale mais do que "ensinar" qualquer teoria. Mostro alternativas e acima de tudo pratico-as. A pouco e pouco quem nos rodeia vai verificando, tal como nós, que essas alternativas também resultam.

Sei que não sou perfeita. Sei que muitas vezes também me desvio das minhas intenções. Em situações desafiantes chego a duvidar se o que estou a fazer é o mais correcto. E quando isso acontece, respiro fundo. Centro-me nas minhas intenções. Sinto o que o meu coração diz.

E é esse o "conselho" que hoje deixo. Questiona as tuas crenças, esquece a pressão familiar ou social, esquece o que ouviste e leste e sente. Sente o que o teu coração de mãe/pai te diz.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Está é (também) a família que escolhi!


Uma amiga disse-me um dia: “Sabes, quando estou a passar por momentos desafiantes com as minhas três filhas, lembro-me muitas vezes de ti. Penso que EU escolhi ter três filhos, EU escolhi esta família, já sabia que ia ser assim. Foi opção minha. Mas tu não! Tu tinhas uma filha e de repente ficaste com quatro!”.
Entendo a minha amiga. Na verdade o meu ideal era ter um “único” casamento para a vida, mas não foi assim. O meu ideal era dar à minha filha uma “única” família como eu tenho a sorte de ter, com pai e mãe juntos e enamorados, mas também não foi assim. O meu ideal era dar-lhe uma vida com maior “estabilidade” e sem tanta logística entre uma casa e outra, mas não aconteceu assim.
A vida correu de outro modo. O meu caminho foi outro. E apesar de idealmente não ser o que pretendia, a responsabilidade é minha também. Por isso sim, fui eu que escolhi.
Depois chega de novo o amor…
Simplesmente acontece e não acredito que escolhamos as pessoas que amamos! Mas ao optarmos por viver esse amor, existem escolhas todos os dias.
Nem sempre é fácil. Por vezes é mesmo duro: quando tenho saudades da rotina de mãe e filha que tínhamos há tantos anos; quando faço uma viagem de 600 km todos os fins-de-semana para que a minha filha possa estar com o pai; nos dias em que o silêncio só chega quando me deito (e, ainda assim, acordo a cada ruído durante a noite); quando o frigorífico que se encheu ontem, já se esvaziou por completo; quando lavo e estendo uma máquina de roupa todos os dias; quando tenho que decorar datas de testes, reuniões, visitas de estudo e actividades a multiplicar por quatro; quando acabam de almoçar e já perguntam o que vai ser o jantar; quando a logística para ir a qualquer lado é enorme; quando temos que gerir conflitos, ciúmes, opiniões e vontades de seis pessoas; quando há desencontros de ideias educativas entre nós; quando todos os dias me pergunto: como devo agir, tendo em conta que sou mãe de uma mas não sou mãe de três?
Concordo com a minha amiga, no sentido em que não escolhi o passado do meu marido, tal como ele não escolheu o meu. São “mochilas” que trazemos connosco, com tudo o que isso representa de bom e de desafiante. É esse passado que nos tornou no que somos hoje.
Mas o que faço com o momento presente, é escolha minha.
É uma escolha minha aprender a viver cada momento sem me agarrar demasiado aos planos.
É uma escolha minha respeitar o ser individual de cada membro desta família.
É uma escolha minha promover uma comunicação aberta, honesta e respeitadora entre todos.
É uma escolha minha continuar a respeitar o pai da minha filha e a ficar feliz quando ela vê na madrasta uma “segunda mãe”.
É uma escolha minha respeitar a ex-mulher do meu marido e toda a sua família.
É uma escolha minha encarar os momentos desafiantes como aprendizagem.
É uma escolha minha comunicar os meus limites para manter o meu equilíbrio.
É uma escolha minha ser uma mãe (e madrasta) mais presente e consciente todos os dias.
Todos os momentos desafiantes são ultrapassados por momentos altamente gratificantes desta família alargada. Não há truques e segredos para as novas famílias modernas. Só o mesmo que para as famílias “tradicionais”: muito respeito e muito muito amor.
Por isso, esta é também a família que EU escolhi. Que escolho todos os dias. E para mim é uma família perfeita na sua imperfeição.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Quando a escola começa...


Hoje, nestes dias em que o ano escolar de novo começa, podia dizer tanta coisa sobre o modo como se ensina, sobre o modo como se aprende, porque isso me toca tanto...

Hoje, resumo tudo numa frase (e repito o post de Julho), para que ela fique bem na memória durante todo o ano escolar, especialmente para quando o teu filho chegar cansado da escola, quando tiver 3 páginas de TPCs para fazer, quando o fim de semana que deveria ser para aprender em família é preenchido por horas de estudo fechado no quarto, para quando o fores inscrever em mais uma actividade (porque ele tem que ter acesso a tudo para depois escolher...), para quando ele ficar sem intervalo porque esteve muito irrequieto durante a aula, para quando ele te mostrar as notas dos testes ou do período.

Para reflectires, a ti, pai, mãe, educadora, professor:

"A infância não é uma preparação para a vida. A infância é vida!" (Prof. Ripaldi)

Deixem a criança ser criança. É quanto basta!

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Mãe: vai dar uma volta!


A ti, que és mãe: sim, vai dar uma volta! Literalmente.

Não para ir buscar os filhos à escola, não para a reunião de trabalho, não para comprar os legumes para a sopa de amanhã. Para ti. Uma volta para ti. Uma conversa com uma amiga, uma ida ao cabeleireiro, um passeio a pé, ou simplesmente um café na esplanada mais próxima.

Parece tão simples e às vezes é tão complicado, não é?  

Acredito que um dos melhores ensinamentos que posso dar aos meus filhos é o de saberem respeitar os seus próprios limites, mas também os limites dos outros. Acredito também que só conseguimos dar aquilo que temos.

E hoje precisava de espaço. De respirar. Fui dar uma volta. Sozinha. Os 20 a 30 minutos que demorei foram o suficiente para ganhar energia para o dia. 

Também tu, que és pai, vai dar uma volta!