domingo, 4 de dezembro de 2016

Haverá "mimo" a mais?


Esta é uma dúvida na qual muito tempo ponderei e que ainda surge com muita frequência nos pais com quem contacto. Respondo a esta pergunta, com uma outra: do que estamos a falar quando falamos de "mimo"?
Se para nós "mimo" é permissividade, não estabelecer limites com a criança, enchê-los de gadgets, roupa, viagens, actividades... então a qualidade desse "mimo" e o seu resultado é de facto muito duvidoso. Sabemos (e os estudos comprovam) que a auto-estima da criança não é obtida pelos presentes que lhes damos. Não é isso que as fará sentirem-se reconhecidas e sentirem-se melhor acerca de elas mesmo. É fácil observar isso pela curta satisfação que isso lhes proporciona ou pelas melhores memórias que têm, não se relacionarem maioritariamente com isso. Sabemos isso da nossa própria experiência enquanto adultos.
O modo como a criança se relaciona com ela mesma, é um reflexo da maneira como nós nos relacionamos com ela. O reconhecimento da criança como ser único que é e tal como é (e não como nós imaginamos que é ou queremos que seja) é na verdade o melhor contributo para a formação da sua auto-estima enquanto criança e enquanto futuro adulto.
Se para nós "mimo" é abraçar, dar colo, acarinhar... então não é demais (desde que respeitados os limites dos pais e das crianças).
Se para nós "mimo" é estar presentes efectivamente; é darmos atenção plena quando estamos com eles; é reconhecermos a sua importância e individualidade (não por elogios repetidos, "retóricos", exagerados, mas reconhecendo a sua personalidade, os seus interesses, as suas ideias e opiniões), então é esse "mimo" que vai ajudar a fortalecer a sua auto-estima enquanto crianças e adultos.
Volto a "bater na mesma tecla": em caso de dúvida, pensem em nós enquanto adultos:
- Gosto de me sentir amada e acarinhada? Acho isso "demais"?
- Prefiro que me deêm uma mala MK ou de sentir que me escutam, que me entendem, que me ajudam?
- Prefiro ser elogiada só quando o projecto que desenvolvi foi aprovado ou prefiro ser elogiada pela minha dedicação, criatividade, coragem?
- Prefiro que a minha mulher/o meu marido me diga: preciso agora de uma hora a trabalhar com total atenção, mas depois ter um jantar em que conversamos com total atenção um no outro ou prefiro estar ao lado dela/dele toda a tarde e sentir que não me ouve ou presta atenção? 
Em suma, na minha opinião não há "mimo" a mais. O que habitualmente chamamos de crianças "mimadas" não são crianças que têm carinho e atenção a mais. São crianças que provavelmente não conseguem expressar as suas emoções de outra forma e crianças que não sabem respeitar os limites dos outros. E aí, chegamos sim, à questão principal: de que modo posso respeitar os limites dos outros e comunicar eficazmente os meus próprios limites? (a não perder, no próximo post ;)