Os pais que somos e os que queremos ser. Reflexões de um caminho pela Parentalidade Consciente.
quarta-feira, 26 de julho de 2017
Os netos que somos
Tenho na alma a memória da avó que não cheguei a conhecer mas sobre quem ouvi tantas histórias, entre as quais a do seu nome invulgar que sempre me fascinou - Fraternidade. Tenho comigo a sina de por poucos meses ela não me ter pegado ao colo, mas o sentimento da sua protecção desde que nasci.
Tenho na alma o sorriso sereno do avô Carlos que me acompanhou de perto, a canção do soldado, as histórias do gigante, a franja cortada na barbearia, o frango à espanhola como não há igual, a resistência de quem doente viveu até tão tarde e aquela imagem do banco do jardim, onde esperava por nós e pelo que trazia a vida, no troçar sereno que a idade lhe permitia.
Tenho na alma a vida da avó Beatriz e sinto o seu abraço como se fosse ontem. Tenho o cheiro dos pinheiros da aldeia, o som das suas cantigas e o sabor da sua sopa, dos pastéis de bacalhau, do queijo fresco e das farófias que ninguém faz como ela fazia. Sinto nos pés a terra da sua horta e na boca a laranja colhida e refrescada no poço. Olho para a vida com a surpresa e a expectativa com que abria a canastra cheia que mandava pelo autocarro. E ainda olho para as estrelas como ao lado dela olhava para o céu, deitada no panal.
Tenho na alma a alegria do meu avô Manuel, dos seus foguetes únicos, das suas histórias de guarda e da sua capacidade de apreciar as coisas bonitas. Tenho a memória das fogueiras, da matança do porco e da adega. Faço por ter a sua resistência, a sua força de vontade e também a sua aceitação quando preciso.
Os avós partem mas deixam-nos marcas cravadas na alma e no coração. Os meus deixaram-me muito amor. Com as suas partidas senti sempre que parte da minha criança interior também morria. Mas em verdade, o que descobri é que é precisamente com a sua memória que a minha criança interior renasce.
Os avós que tivémos fazem os netos que somos. E é com eles e com a sua protecção que desço sempre à terra. Que me lembro do barro com que sou feita. Que me lembro do que sou e de onde vim!
O meu filho não me escuta... como melhorar a comunicação entre pais e filhos
Desde muito cedo que aprendemos a comunicar de modo muito
natural, pronunciando as primeiras palavras ainda antes de completarmos um ano
de vida. Parece por isso quase um contrassenso querermos aprender a fazer algo
que na realidade já fazemos. A verdade é que falamos muito, mas temos regra
geral, uma grande dificuldade em manifestarmos os nossos pensamentos,
expressarmos os nossos sentimentos e ao mesmo tempo compreendermos os dos
outros. Quando falamos de comunicação entre pais e filhos… aí ainda se torna
mais complicado e todos nós passamos por esse desafio…
Uma das regras básicas para comunicarmos de forma mais
consciente com os nossos filhos é muito simples: basta lembrarmo-nos como
gostamos que comuniquem connosco! Como me sinto quando não sou escutada, quando
não posso exprimir os meus sentimentos, quando me dizem que não posso ter
opinião?
Aqui ficam então algumas sugestões de como podemos melhorar
a comunicação com os nossos filhos:
1. Conecta-te
A conexão é a base de toda a comunicação consciente.
Funciona como um túnel de ligação - quanto mais largo for o “túnel”, mais a
comunicação flui. Quanto mais estreito for (quanto menor for a conexão), mais a
comunicação será difícil. Para criar conexão lembra-te mais uma vez de como
gosta que falem para si: aproxima-te ao nível do teu filho, olha-o nos olhos e
interessa-te pelo que está a fazer.
2. Está
presente com atenção e com o coração
As crianças percebem perfeitamente quando estamos atentos ao
que dizem ou quando apenas fingimos que estamos. Para o que estás a fazer e
dedica-te totalmente a escutá-lo.
3. Escuta
Escuta com os ouvidos, com os olhos e com o coração. O que o
teu filho te “diz” vai muito para além das palavras.
4. Evita
interferências
Estamos pouco habituados a escutar sem intervir e na maior
parte das vezes o que os nossos filhos mais precisam é que alguém os ouça: sem
críticas, sem julgamentos, sem opiniões. Quando intervimos em demasia: “porque
é que não fazes assim…”; “eu tinha logo feito isto e aquilo…”, “já sabia que
isso ia acontecer…” não promovemos a responsabilidade e a autoestima e a
mensagem subliminar é a de eles não são suficientes, a de que nós faríamos
melhor e mais rápido”. Se o teu filho quiser a tua opinião, ele vai pedi-la!
5. Sê
objetiva
Quando falares com o teu filho tenta ser clara e usar poucas
palavras. As crianças percebem quando estamos com rodeios. Não te repitas
muito.
6. Sê
congruente
As palavas que dizemos têm um impacto pequeno comparado com
o tom que utilizamos e com toda a linguagem não verbal que exprimimos. Quando
dizemos algo em que não acreditamos, essa incerteza revela-se e as crianças
percebem-no muito bem.
7. Assume a
responsabilidade
Exprime aquilo que sentes e o que queres de forma clara,
usando uma linguagem pessoal e assumindo a responsabilidade. O modo como
olhamos para as situações está relacionado mais connosco do que com os outros –
os nossos medos, frustrações e julgamentos. Aceitar a nossa vulnerabilidade, as
nossas emoções e sentimentos é meio caminho andado para que o nosso filho
identifique, aceite e aprenda a gerir melhor as suas próprias emoções e
sentimentos, base fundamental para o seu desenvolvimento mais equilibrado e
saudável.
8. Pede
apenas o que é possível
Tenta entender o ponto de vista da criança. Repetir-lhe que
tem muita urgência porque tem uma reunião à qual não pode chegar atrasado, não
significa muito para a criança. Sê clara nos teus limites e valores mas tenta
sempre colocar-te no papel do outro.
9. Acolhe as
emoções
Acolher todas as emoções. As “boas” e as “más”. Quanto mais
a criança se sentir segura para expressar os seus sentimentos e emoções, sejam
eles quais forem, melhor se sentirá. As crianças (tal como os adultos) têm
muitas vezes dificuldade em verbalizar as suas emoções e acabam por as exprimir
através de comportamentos. Cabe-nos a nós adultos ajudar a criança a acalmar-se
até que ela consiga fazê-lo por si mesmo.
10. Dá-te um
tempo
No impulso do momento, por vezes é difícil termos uma
comunicação mais presente e alinhada com as nossas intenções. Por vezes uma
pequena pausa é o suficiente para conseguirmos olhar para a situação com maior
objetividade, com “mente de principiante” e menor julgamento. Sem misturar o
que a criança “fez” com aquilo que a criança “é”. Uns segundos para respirar
fundo antes de reagir fazem, na maior parte das vezes, uma grande diferença!
(artigo originalmente publicado no site http://www.maespontopt.pt/)
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