segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Quero amar-te mas tenho medo


Descobri que estava grávida num lindo dia de sábado em que regressava de uma viagem a Sevilha e na segunda-feira seguinte, ainda na turbulência das emoções (era uma gravidez desejada e planeada, mas que veio bem mais rápido do que esperava), fui surpreendida por uma enorme hemorragia. Na consulta de urgência (ginecologia) informaram-me que estava grávida de 11 semanas e meia mas que tinha um enorme descolamento de placenta. Recomendaram-me que continuasse a minha vida normalmente porque “o que tivesse que acontecer, aconteceria”. Valeu-me a consulta com a minha médica obstetra no dia seguinte que (apesar de muito pouco esperançosa, confessou-me ela mais tarde) decidiu que tudo faríamos para que a gravidez se mantivesse e o bebé nascesse.

Seguiram-se quatro meses de repouso absoluto, em que me sentava apenas para comer e me levantava apenas para ir à casa de banho e me deslocar às consultas. Não tinha dores, não me sentia doente nem enjoada, apenas tinha que ficar sossegada. Foi um verdadeiro desafio sentir-me novamente dependente do apoio dos outros, mas o maior desafio foi na verdade saber como amar este bebé.

Queria muito ser mãe e acreditava (sei que as opiniões divergem muito mas isto é o que sinto) que a vida daquele pequeno ser tinha começado a partir do momento da conceção. E que a partir desse momento se iniciara um processo de desenvolvimento que acontecia a uma velocidade incrível e que a cada segundo que passava, era registada e processada informação.

Apesar dos meus 29 anos, sentia-me completamente inexperiente. O risco enorme de perder o meu bebé trouxe-me um medo terrível do apego. “Eu amo-te mas tenho medo, não me quero apegar demasiado a ti, porque se te perder vou sofrer muito!” Ao mesmo tempo tinha um sentimento de culpa enorme porque acreditava (e ainda acredito) que todo o ambiente intra-uterino e o estado físico e emocional da mãe influenciam o desenvolvimento do bebé. Segundo a epigenética o ambiente intra-uterino tem mesmo um maior impacto no nosso valor humano do que os nossos genes.

Com o decorrer do tempo fui aprendendo a amar incondicionalmente este ser que nascia em mim. Sem pensar no futuro, mas pensando em cada momento vivido, mesmo que dentro da minha barriga. Fui aprendendo a acreditar que independentemente do desfecho da história, cada momento de amor valia a pena. Acreditei sempre que iria correr tudo bem, mas fui também aprendendo a praticar a aceitação do que viesse. Muito graças ao infindável apoio familiar, ao apoio da minha médica e ao extraordinário apoio da enfermeira que me preparou para o parto.

Sinto que hoje teria ainda mais ferramentas para lidar com esta situação e tenho um respeito enorme pelas mães (e pais) que passam por situações semelhantes. Sei também que é gritante a falta de apoio e a frieza com que muitas vezes têm que lidar.


Sou uma abençoada, eu sei, porque a minha história “terminou” muito bem. A minha filha L. nasceu às 39 semanas, saudável e sem qualquer problema. Tem hoje 12 anos e é a estrela da minha vida.

Artigo originariamente publicado na plataforma Mães.pt: http://www.maespontopt.pt