Esta semana, ao tentar saborear uma refeição de forma mais mindfulness, surgiu-me uma memória deliciosa...
Quando tinha os meus 7 anos, andava numa maravilhosa escola de aldeia alentejana onde, ocasionalmente, nos presenteavam com um pudim como sobremesa. O pudim era servido num prato de alumínio com fundo e fazia as minhas delícias! Quando chegava à mesa, eu pegava na colher e desenhava linhas horizontais e verticais, cortando o pudim em pequenos quadrados. Depois, comia o pudim quadradinho a quadradinho. Sentia que desta maneira saboreava melhor o pudim e parecia que "durava" mais...
Aos 7 anos não sabia nada de mindfulness nem de meditação, mas sabia apreciar mais cada momento, com mais presença e atenção. Sem saudosismo do passado nem ansiedade pelo futuro.
Na verdade, as crianças são naturalmente dotadas de mindfulness. Basta observar um bebé e a forma como o tocar um objecto, o comer um pedaço de fruta, o olhar sobre um insecto é uma verdadeira experiência sensorial única.
À medida que crescemos, vamos perdendo esta capacidade de "mente de principiante", de presença plena no aqui e agora, mas as crianças têm-na naturalmente. Como podemos estimulá-las a manter essa capacidade?
- Podemos convidá-los a ouvir os pássaros ou andar na natureza e explorar as plantas e insectos, com curiosidade. Podemos chamar-lhes a atenção ou pedir-lhes que descrevam o que vêem ou o que sentem. Evite completar os seus pensamentos, interpretá-los ou conceituá-los. Deixe a experiência ser livre, natural.
- Podemos limitar o tempo de exposição à TV ou outras formas de entretenimento digital. Os estudos indicam que uma exposição demasiado grande a estes meios pode encurtar o tempo de atenção, aumentar a impulsividade e a hiperatividade, afectando o desenvolvimento natural do cérebro.
- Por último e não menos importante: nós somos o exemplo! Se quero que os meus filhos vivam de forma um pouco mais presente, então eu tenho que o viver. Se eles observarem o modo como o meu dia a dia ocorre, com atenção plena e presente no momento - seja a cozinhar, seja a brincar com eles, seja a ler um livro - naturalmente irão adquirindo esta linguagem. Se observarem como reajo em situações de stress, naturalmente vão reagir de maneira idêntica.
Que o nosso dia seja saboreado em cada momento, com mente de principiante, como eu saboreava cada quadrado de pudim...
Os pais que somos e os que queremos ser. Reflexões de um caminho pela Parentalidade Consciente.
Mostrar mensagens com a etiqueta Crianças. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Crianças. Mostrar todas as mensagens
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017
segunda-feira, 18 de julho de 2016
A infância não é uma preparação para a vida. É vida.
“When we adults think of children, there is a simple truth which we ignore: childhood is not preparation for life, childhood is life. A child isn’t getting ready to live – a child is living. The child is constantly confronted with the nagging question, ‘What are you going to be?’ Courageous would be the youngster who, looking the adult squarely in the face, would say, ‘I’m not going to be anything; I already am.’ ”– Professor T. Ripaldi
Esta frase do Professor Ripaldi marcou e continua a marcar-me enquanto pessoa, enquanto mãe, enquanto educadora. Devia estar escrita em letras garrafais nas paredes de todas as casas, nas salas de todas as escolas, nos manuais de todos os professores e nas secretárias de todos os ministros!
Quantas vezes justificamos as nossas acções perante as crianças (e com toda a boa intenção, não duvido) como "essenciais" para as preparar para o futuro. Quantas vezes as queremos encher de conhecimento, as inscrevemos em actividades, lhes exigimos resultados... a pensar no futuro!
Quantas vezes lhes perguntamos "O que queres ser quando fores grande?", esquecendo o que são hoje?
Entendo que de certo modo é legítimo, tendo em conta que tudo o que é transmitido (na verdade, mais "vivido" que "transmitido") na infância, moldará a criança enquanto adulto. A diferença está na medida em que esqueço o presente e me foco apenas no futuro. Na medida em que encaro a infância como uma fase de preparação para a vida, esquecendo que ela É vida. Na medida em que esqueço que a criança é um participador activo desde que nasce e não um mero aprendiz!
Como diz o Professor Ripaldi, as crianças fazem parte activa desta viagem, são tanto aprendizes como mestres, tal como eu e tu.
Subscrever:
Mensagens (Atom)