segunda-feira, 27 de março de 2017

A mãe também chora!


Durante muito tempo disfarcei a preocupação. Nos tempos mais difíceis disfarcei a dor, o desgosto, a tristeza. Muitos foram os dias em que permitia que o choro viesse só quando ela já dormia no quarto. A mãe perfeita, a mãe forte, a mãe guerreira, a mãe sempre alegre - esse era o papel que eu vestia com a melhor das intenções, num sentido protector de não passar estes sentimentos à minha filha.

Estava convencida que o fazia bem, como se as palavras e o sorriso fossem suficientes... hoje sei que a linguagem não verbal, o meu movimento, postura, a minha energia, eram certamente tão ou mais fortes quanto as minhas palavras.

Quando um dia não consegui disfarçar o meu aborrecimento e tristeza e ela ficou "em choque" com a minha reacção, eu percebi o que andava a fazer. Descobri demasiado tarde (mas ainda a tempo!) a importância da vulnerabilidade na educação. A vulnerabilidade dela e a minha. 

A vulnerabilidade ajuda a entrarmos em contacto com os nossos desejos e sentimentos e desse modo aumenta o contacto com quem nós realmente somos. A vulnerabilidade é ainda um ingrediente fundamental na relação que temos com os outros, na medida em que aumenta a profundidade e a qualidade das conexões que criamos. 

Na semana passada, num pico de dor que não consegui disfarçar após uma pequena cirurgia, a minha filha colocou a sua mão na minha e disse-me: mamã, podes chorar! Este permitir sentir e permitir mostrar o que sinto continua a ser uma aprendizagem constante!

Continuo a focar-me na alegria, na felicidade, no positivismo e a querer preservar a minha filha das preocupações que são dos adultos, mas aprendi a a ter a coragem de ser vulnerável. Só aceitando os meus sentimentos e permitindo que eles se revelem, eu vou ajudar  a minha filha a aceitar a sua própria vulnerabilidade,  a conhecer-se melhor, a aceitar os seus sentimentos e com isso a aprender a abraçar o que é humano - nela e nos outros!

Só aceitando a própria vulnerabilidade conseguimos entender a vulnerabilidade dos outros. E isso é construir o amor. 

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