sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Preparar para a vida ou deixar viver?



“When we adults think of children, there is a simple truth which we ignore: childhood is not preparation for life, childhood is life. A child isn’t getting ready to live – a child is living. The child is constantly confronted with the nagging question, ‘What are you going to be?’ Courageous would be the youngster who, looking the adult squarely in the face, would say, ‘I’m not going to be anything; I already am.’ ”– Professor T. Ripaldi

Esta frase do Professor Ripaldi marcou e continua a marcar-me enquanto pessoa, enquanto mãe, enquanto educadora. Devia estar escrita em letras garrafais nas paredes de todas as casas, nas salas de todas as escolas, nos manuais de todos os professores e nas secretárias de todos os ministros!

O mundo corre a um ritmo cada vez mais acelerado onde planeamos e antecipamos cada etapa, muitas vezes cheios de medos e expectativas. Transferimos esta ansiedade de futuro para o que queremos fazer, o que queremos atingir e alargamos a quem connosco vive, nomeadamente às nossas crianças!
Quantas vezes ouço os medos dos pais em relação ao futuro incerto quando se toma uma decisão! “Eu adoro esta escola, mas eles brincam tanto que tenho medo da adaptação que ele vai ter daqui a X anos. Será que fica preparado?” ou “Eu quero dar-lhe a hipótese de experimentar todas estas atividades (mesmo que sobre algum tempo livre porque se ele quiser ser bailarino/ músico/ nadador/ falar muito bem inglês) convém começar já.”

Quantas vezes justificamos as nossas ações perante as crianças (e com toda a boa intenção, não duvido) como "essenciais" para as preparar para o futuro. Quantas vezes as queremos encher de conhecimento, as inscrevemos em atividades, lhes exigimos resultados... a pensar no futuro!

Quantas vezes lhes perguntamos "O que queres ser quando fores grande?", esquecendo o que são hoje? Quantas vezes se deixa de viver o que é importante na etapa presente, só por medo do que vai acontecer na próxima etapa?

Entendo que de certo modo é legítimo, tendo em conta que tudo o que é transmitido (na verdade, mais "vivido" que "transmitido") na infância, moldará a criança enquanto adulto. A diferença está na medida em que esqueço o presente e me foco apenas no futuro. Na medida em que encaro a infância como uma fase de preparação para a vida, esquecendo que ela É vida. Na medida em que esqueço que a criança é um participante ativo desde que nasce e não um mero aprendiz!

Como diz o Professor Ripaldi, as crianças fazem parte ativa desta viagem, são tanto aprendizes como mestres, tal como eu e tu.


(artigo originalmente publicado na plataforma mães.pt)

Tablets, Smartphones e afins


Um amigo confessou-me no outro dia que finalmente tinha entendido aquilo que sempre observou e criticou no seu filho de 15 anos: o porquê de estar constantemente ao telemóvel! Apenas recentemente, quando o meu amigo estabeleceu uma relação próxima com uma pessoa que vivia longe (acabando por manter um contacto mais frequente através de mensagens e what’s app com essa pessoa) conseguiu identificar o impacto que esta experiência teve nele. Tal como ele me desabafou: fisicamente estou só como antes, mas sinto-me mais acompanhado que nunca.
Na sua opinião, quando os jovens estão atentos ao smartphone, não estão a focar a sua atenção no objeto em si, mas sim às pessoas que estão atrás: aos seus amigos. Desse modo, eles sentem-se sempre em contacto com eles. Lado a lado. A sua existência, a sua noção de Ser em sociedade, está diretamente conectada com a relação com os seus amigos.
Esta observação fez-me refletir, até porque “o meu filho passa o tempo à volta do telemóvel” é uma das queixas que mais oiço através dos pais que vou acompanhando.
Os estudos em relação ao uso das novas tecnologias são diversos e díspares: se uns apontam para alguns benefícios como a melhoria da visão, o aumento da concentração e o desenvolvimento da aprendizagem, outros referem a relação com comportamentos impulsivos, problemas de concentração e a criação de dependência.
Pela observação que faço das crianças e adultos que conheço, consigo detetar parte destes benefícios, mas também os seus perigos. E como em tudo: depende sempre de quem, do quando, do onde, de quanto tempo e a fazer o quê?
E se há aspetos que para mim são perentórios, nomeadamente o facto de considerar que crianças de tenra idade não devem ter acesso a estas tecnologias ou o facto de não deverem ser utilizados na hora de deitar e durante a refeição, outros aspetos há que na minha opinião podem e devem ser ponderados antes de qualquer julgamento. Aqui ficam alguns dos meus pontos de reflexão:
- Analise os seus hábitos (e os de toda a família)! Quanto tempo passa ao telefone ou no tablet? Em que situações? As crianças seguem o que os adultos fazem e na maior parte dos casos que conheço os pais são os primeiros a confessarem-se dependentes destas tecnologias. Muitas vezes usando o escudo de que “precisam de trabalhar”. A mudança tem que ser familiar.
- Se a criança passa muito tempo ao telefone, tablet ou computador, avalie que necessidades estão por trás deste comportamento: reconhecimento, conexão com os amigos, novidades e exploração? Podem ser respondidas de outra forma alternativa?
- Antes de julgar, seja curioso: tente (de forma suave!) demonstrar interesse pelo que ele está a fazer. Faça perguntes, Veja ou jogue com ele.
- Entenda as necessidades do seu filho mas estabeleça os seus próprios limites, que devem ficar claros.
Em suma: as novas tecnologias têm esta capacidade de nos aproximar dos amigos que estão mais longe mas de por vezes nos afastar dos que estão mais perto. Têm benefícios e desvantagens, é tudo uma questão de equilíbrio. Essa noção de equilíbrio deve ser conversada em família, entendendo as necessidades e estabelecendo limites. Com curiosidade e sem julgamento.

(artigo original publicado na plataforma mães.pt)