Um amigo confessou-me no outro
dia que finalmente tinha entendido aquilo que sempre observou e criticou no seu
filho de 15 anos: o porquê de estar constantemente ao telemóvel! Apenas
recentemente, quando o meu amigo estabeleceu uma relação próxima com uma pessoa
que vivia longe (acabando por manter um contacto mais frequente através de
mensagens e what’s app com essa pessoa) conseguiu identificar o impacto que esta
experiência teve nele. Tal como ele me desabafou: fisicamente estou só como
antes, mas sinto-me mais acompanhado que nunca.
Na sua opinião, quando os
jovens estão atentos ao smartphone, não estão a focar a sua atenção no objeto
em si, mas sim às pessoas que estão atrás: aos seus amigos. Desse modo, eles
sentem-se sempre em contacto com eles. Lado a lado. A sua existência, a sua
noção de Ser em sociedade, está diretamente conectada com a relação com os seus
amigos.
Esta observação fez-me refletir,
até porque “o meu filho passa o tempo à volta do telemóvel” é uma das queixas que
mais oiço através dos pais que vou acompanhando.
Os estudos em relação ao uso
das novas tecnologias são diversos e díspares: se uns apontam para alguns
benefícios como a melhoria da visão, o aumento da concentração e o
desenvolvimento da aprendizagem, outros referem a relação com comportamentos
impulsivos, problemas de concentração e a criação de dependência.
Pela observação que faço das
crianças e adultos que conheço, consigo detetar parte destes benefícios, mas
também os seus perigos. E como em tudo: depende sempre de quem, do quando, do
onde, de quanto tempo e a fazer o quê?
E se há aspetos que para mim
são perentórios, nomeadamente o facto de considerar que crianças de tenra idade
não devem ter acesso a estas tecnologias ou o facto de não deverem ser
utilizados na hora de deitar e durante a refeição, outros aspetos há que na
minha opinião podem e devem ser ponderados antes de qualquer julgamento. Aqui
ficam alguns dos meus pontos de reflexão:
- Analise os seus hábitos (e
os de toda a família)! Quanto tempo passa ao telefone ou no tablet? Em que
situações? As crianças seguem o que os adultos fazem e na maior parte dos casos
que conheço os pais são os primeiros a confessarem-se dependentes destas
tecnologias. Muitas vezes usando o escudo de que “precisam de trabalhar”. A
mudança tem que ser familiar.
- Se a criança passa muito
tempo ao telefone, tablet ou computador, avalie que necessidades estão por trás
deste comportamento: reconhecimento, conexão com os amigos, novidades e
exploração? Podem ser respondidas de outra forma alternativa?
- Antes de julgar, seja
curioso: tente (de forma suave!) demonstrar interesse pelo que ele está a
fazer. Faça perguntes, Veja ou jogue com ele.
- Entenda as necessidades do
seu filho mas estabeleça os seus próprios limites, que devem ficar claros.
Em suma: as novas tecnologias
têm esta capacidade de nos aproximar dos amigos que estão mais longe mas de por
vezes nos afastar dos que estão mais perto. Têm benefícios e desvantagens, é
tudo uma questão de equilíbrio. Essa noção de equilíbrio deve ser conversada em
família, entendendo as necessidades e estabelecendo limites. Com curiosidade e
sem julgamento.
(artigo original publicado na plataforma mães.pt)
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