Os pais que somos e os que queremos ser. Reflexões de um caminho pela Parentalidade Consciente.
quinta-feira, 21 de setembro de 2017
Que nunca fiquem palavras de amor por dizer...
As palavras traduzem o gesto e o gesto as palavras.
Tantas vezes a vida nos torna mudos do que sentimos e do que esquecemos de dizer. Haja quem nos lembre, haja quem nos ame e nos diga sem reticências.
Que não faltem palavras para aquecer o coração frio. Que não faltem palavras para embalar o sono e o sonho. Que não faltem palavras que adocem o amargo da vida.
Que não faltem palavras de amor e que nunca fiquem por dizer.
Hoje recebi este "frasco mágico" da minha filha L. Assim do nada! Entregou-me e disse: "quando estiveres mais triste retira um papelinho e lê. Cada papelinho (consoante a cor) tem: razões porque és a melhor mãe do mundo; porquê tu e os nossos momentos mais felizes."
As palavras quando vêm do coração, têm um efeito mágico em quem as lê. Que elas nunca fiquem por dizer.
sexta-feira, 15 de setembro de 2017
O que eu (mãe) aprendi com o Ensino Waldorf
Acredito que são os professores (e os restantes
colaboradores) que fazem a Escola, seja pública ou privada. Acredito que cada
criança é uma criança e que não existem metodologias ou pedagogias que sejam
perfeitas ou que sirvam a todas de igual maneira. Acredito também que as
experiências que temos são únicas, naquele momento e naquele contexto. Esta foi
a minha!
A minha filha L. tinha 6 meses e eu regressara ao trabalho.
Os avós estavam perto, mas sempre achei que deveriam manter a sua vida ativa,
dando algum apoio, mas sem ficarem dependentes da nova neta que nascia. Na
procura de escolas perto de casa e da empresa, encontrámos (no meio de um
turbilhão de escolas muito bem equipadas e cheias de atividades… mas também
muito barulhentas e confusas!) uma escola simples, com recreio em terra e com
árvores, com poucos brinquedos convencionais, cores suaves e materiais
naturais. No primeiro contacto, observei um grupo de crianças sorridentes em
roda da educadora que cantava e cortava uma maçã à medida que a distribuía.
Senti paz e amor. Senti-me em casa.
Sempre adorei a natureza e aquela escola foi como se
trouxesse um pouco do meu Alentejo e da minha Beira Baixa para o meio da
cidade, mas não era nem sou vegetariana nem conhecia nada da Pedagogia Waldorf.
Podia contar todo o percurso que a L. teve nesta escola
(onde esteve dos 6 meses aos 6 anos) e na escola que se seguiu, também de
inspiração Waldorf (onde esteve dos 6 aos 10). Ela explicar-vos-ia como teve
tempo para brincar livremente; como aprendeu a respeitar e a cuidar da
natureza; como aprendeu a inventar brincadeiras do nada; como se sentiu livre a
subir às árvores, a brincar na areia ou a passear na floresta; como se sentiu
criativa nos projetos que fez, como aprendeu a acordar o corpo com as “rodas da
manhã” e a agradecer as refeições feitas com os produtos da horta; como
aprendeu sem TPCs obrigatórios e sem testes até ao 4ºano e como se sentiu
acompanhada e amada pelos professores e colaboradores da escola.
Mas hoje a voz é minha… quero contar-vos o que eu aprendi enquanto
mãe.
Aprendi a viver com mais calma o crescimento da minha
filha, a celebrar cada etapa e a não querer apressar nada. Aprendi eu própria a
viver com maior tranquilidade, a saber olhar de novo para mim, para a criança
que fui.
Aprendi a viver mais no momento presente e a pensar “o que
quero para a minha filha agora”, sem me preocupar tanto com o que aconteceria
no futuro.
Aprendi que os professores, tal como cada ser humano, não
são “perfeitos”, mas que quando se ensina por e com amor, tudo vai fluindo a
seu jeito. Aprendi a confiar e a ajudar quando a estrutura da escola não era de
longe a que eu esperava e a celebrar por cada raiz criada e etapa ultrapassada.
Aprendi que é possível viver sem o stress dos inúmeros
trabalhos de casa e da exigência dos testes e ainda assim ter uma avaliação
individual, profunda, holística do desenvolvimento da minha filha. Aprendi que
é possível frequentar uma escola Waldorf e ter uma adaptação tranquila ao
ensino “tradicional”
(Re)Aprendi a viver a magia, o sonho, a natureza, a beleza
das coisas simples e aprendi, acima de tudo, a confiar na minha intuição.
Texto originariamente publicado na plataforma http://www.maespontopt.pt
sexta-feira, 1 de setembro de 2017
A tua filha deve ser uma santa!
“Deves
pensar que a tua filha é uma santa porque tu nunca lhe bates e eu já fui batida
muitas vezes!”
Foi esta a frase que ouvi de
uma criança de nove anos que brinca e convive frequentemente com a minha filha.
No instante achei alguma piada, mas logo interiorizei a mensagem profunda que
aquela criança estava a passar… a mim e espero eu, a quem lhe bate.
Acredito profundamente que
todas as crianças nascem com uma genuína santidade. Acredito também que não se
tornam santos ou demónios pelo número de traquinices que fazem ou pelas tareias
que apanham. Mas estremeço ao pensar que uma criança se possa sentir assim e
nas implicações que isso pode ter no seu desenvolvimento pessoal e social. E é
por isso que devemos parar e pensar naquilo que nos dizem nas entrelinhas.
Sei que o bater resulta, é
certo. A curto prazo, porque impede o “comportamento indesejável”. Inúmeros
estudos indicam que a longo prazo os efeitos não são benéficos. Existem vários,
aliás, a relacionar a punição corporal e psicológica com falhas no
desenvolvimento intelectual, atitudes irascíveis, aceitação da violência como
forma de lidar com os outros, falta de autoconfiança e de amor-próprio,
insegurança.
Bater não transmite orientação
positiva sobre como se comportar numa situação particular, apenas como não se
comportar se uma ameaça de punição estiver presente. As crianças aprendem os
motivos das suas ações pelo que ouvem, mas a prática ativa tem o impacto mais
profundo. De algum modo estamos a demonstrar aos nossos filhos que a violência
é aceitável quando os outros não fazem o que nós queremos.
Seja qual for a desculpa ou a
situação, sejamos objetivos: bater é um ato de violência. E do ponto de vista
científico e humanístico, não existe hoje em dia um argumento válido que
justifique o uso da violência contra as crianças, em nome da disciplina.
A Parentalidade é um caminho
longo e muito trabalhoso. Gasta muito da nossa energia, exige atenção,
paciência, repetição, conexão. Sei que os pais estão muitas vezes cansados,
esgotados e frustrados. Sei também que mais do que o comportamento do filho é
precisamente esse esgotamento que leva ao ponto de rutura – à palmada, ao
bater. Mas também sei, por experiência própria, que existem alternativas que
funcionam. E que é possível fornecer estrutura, regras, limites e consequências,
sem sermos violentos com os nossos filhos.
Não quero julgar quem as dá,
porque também eu já dei palmadas. Quando não conhecia outras ferramentas,
quando estava demasiado esgotada para pensar em alternativas ou por sentir pressão
do que os outros iriam pensar de mim.
Continuam, como é natural, a
surgir situações em que me dá vontade de dar algumas, mas aprendi a respirar e
a não pensar na palmada como solução. E é precisamente nesse momento de paragem
entre a ação e a minha reação, que encontro sempre uma resposta eficaz. E não
violenta.
(texto publicado originariamente em www.maespontopt.pt)
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