Descobri que estava grávida num lindo dia de sábado em que
regressava de uma viagem a Sevilha e na segunda-feira seguinte, ainda na
turbulência das emoções (era uma gravidez desejada e planeada, mas que veio bem
mais rápido do que esperava), fui surpreendida por uma enorme hemorragia. Na
consulta de urgência (ginecologia) informaram-me que estava grávida de 11
semanas e meia mas que tinha um enorme descolamento de placenta.
Recomendaram-me que continuasse a minha vida normalmente porque “o que tivesse
que acontecer, aconteceria”. Valeu-me a consulta com a minha médica obstetra no
dia seguinte que (apesar de muito pouco esperançosa, confessou-me ela mais tarde)
decidiu que tudo faríamos para que a gravidez se mantivesse e o bebé nascesse.
Seguiram-se quatro meses de repouso absoluto, em que me
sentava apenas para comer e me levantava apenas para ir à casa de banho e me
deslocar às consultas. Não tinha dores, não me sentia doente nem enjoada,
apenas tinha que ficar sossegada. Foi um verdadeiro desafio sentir-me novamente
dependente do apoio dos outros, mas o maior desafio foi na verdade saber como
amar este bebé.
Queria muito ser mãe e acreditava (sei que as opiniões
divergem muito mas isto é o que sinto) que a vida daquele pequeno ser tinha
começado a partir do momento da conceção. E que a partir desse momento se
iniciara um processo de desenvolvimento que acontecia a uma velocidade incrível
e que a cada segundo que passava, era registada e processada informação.
Apesar dos meus 29 anos, sentia-me completamente
inexperiente. O risco enorme de perder o meu bebé trouxe-me um medo terrível do
apego. “Eu amo-te mas tenho medo, não me quero apegar demasiado a ti, porque se
te perder vou sofrer muito!” Ao mesmo tempo tinha um sentimento de culpa enorme
porque acreditava (e ainda acredito) que todo o ambiente intra-uterino e o
estado físico e emocional da mãe influenciam o desenvolvimento do bebé. Segundo
a epigenética o ambiente intra-uterino tem mesmo um maior impacto no nosso
valor humano do que os nossos genes.
Com o decorrer do tempo fui aprendendo a amar
incondicionalmente este ser que nascia em mim. Sem pensar no futuro, mas
pensando em cada momento vivido, mesmo que dentro da minha barriga. Fui
aprendendo a acreditar que independentemente do desfecho da história, cada
momento de amor valia a pena. Acreditei sempre que iria correr tudo bem, mas
fui também aprendendo a praticar a aceitação do que viesse. Muito graças ao infindável
apoio familiar, ao apoio da minha médica e ao extraordinário apoio da
enfermeira que me preparou para o parto.
Sinto que hoje teria ainda mais ferramentas para lidar com
esta situação e tenho um respeito enorme pelas mães (e pais) que passam por
situações semelhantes. Sei também que é gritante a falta de apoio e a frieza
com que muitas vezes têm que lidar.
Sou uma abençoada,
eu sei, porque a minha história “terminou” muito bem. A minha filha L. nasceu
às 39 semanas, saudável e sem qualquer problema. Tem hoje 12 anos e é a estrela
da minha vida.
Artigo originariamente publicado na plataforma Mães.pt: http://www.maespontopt.pt